Desinformação

Ao explicar atrasos, Metrô omite falha em trem reformado por empresas do cartel

Ao rebocar trem que apresentara pane, engate de composição modernizada pela Bombardier se quebrou e intensificou atrasos na segunda-feira (17). Empresa é investigada pela justiça

Jorge Soufen/Folhapress

Paralisação provocou mais um dia de lotação no Metrô, que começou e terminou semana com atrasos

São Paulo – O Metrô de São Paulo omitiu à sociedade informações sobre as causas dos atrasos que acometeram a Linha 1-Azul na última segunda-feira (17). De acordo com nota oficial da empresa, os trens circularam com velocidade reduzida e maior tempo de parada apenas em razão de falha no sistema pneumático numa composição na estação Liberdade, sentido Jabaquara. “Essa composição teve de ser esvaziada e retirada de circulação para manutenção”, diz a companhia.

A RBA apurou junto a metroviários que, além dos problemas pneumáticos, que acometeram uma das composições mais antigas do Metrô, um trem reformado apresentaria problemas que agravariam a situação. Os atrasos se estenderiam por mais de uma hora, com 52 minutos de paralisação completa da circulação. A entrada em algumas estações foi restringida para evitar maiores tumultos. Desta vez, porém, os problemas não ocorreram com a frota K, recordista em panes. O incidente da vez acometeu o trem J45, modernizado pelo consórcio BTT.

O pool é encabeçado pela canadense Bombardier, que, segundo denúncias da alemã Siemens, teria participado de negociatas em conluio com membros da administração do PSDB para burlar a concorrência em editais. De acordo com o Ministério Público, que investiga as acusações, o superfaturamento no fornecimento de trens e equipamentos metroferroviários teria lesado o erário estadual em aproximadamente R$ 800 milhões.

O trem J45 foi destacado para rebocar uma composição antiga, conhecida como A40, que apresentara falhas pneumáticas às 7h15 na estação Liberdade, na Linha 1-Azul, e não tinha condições de se movimentar sozinha. Em operação desde os anos 1970, o A40 foi fabricado pelas empresas Budd (Estados Unidos) e Mafersa (Brasil). No momento da pane, estava cheio de passageiros, como costuma ocorrer em horário de pico na linha que liga a capital de norte a sul. Segundo metroviários, a falha teria se resolvido rapidamente se, durante o rebocamento, o pino de engate do J45 não tivesse se rompido.

O incidente fez com que ambos os trens ficassem parados dentro do túnel entre as estações Liberdade e Vergueiro. Com a demora, os vagões do A40 tiveram de ser esvaziados, e passageiros foram obrigados a caminhar pela passarela de emergência. “A pressão sobre os engates do J45 e do A40 foi a mesma. Não aconteceu nada com o trem antigo, mas o engate do trem modernizado se rompeu”, explica um metroviário que prefere não se identificar, informando que, devido à superlotação dos trens e ao tempo de paralisação, alguns usuários passaram mal.

Como de costume, o Metrô não confirmou nem negou à RBA o rompimento do engate do trem reformado. Tampouco especificou quanto tempo de atraso o inesperado incidente provocou no funcionamento do sistema. De acordo com a companhia, o único problema registrado na jornada foi mesmo a falha pneumática na composição A40. De acordo com funcionários, os atrasos de segunda-feira (17) foram considerados Incidentes Notáveis – aqueles de natureza operacional que demandam mais de 6 minutos para serem solucionados. O Metrô não confirma, mas informa que apenas em 2014 já contabilizou 18 ocorrências do tipo. Metroviários garantem que a cifra correta corresponde mostra 28 Incidentes Notáveis no ano.

Leia mais sobre Metrô: