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Metrô de São Paulo volta a ter pane e linha fechada, e Alckmin se cala

Desta vez, problema foi na Linha 5, na zona sul da capital, e usuários voltaram a caminhar entre trilhos. Governador, que na semana passada falou em sabotagem, até agora não se pronunciou

Eduardo Anizelli/Folhapress

Usuários se queixaram da falta de informações sobre o ocorrido na Linha 5 na noite de ontem

São Paulo – O Metrô de São Paulo voltou a apresentar pane e interrupção total dos serviços ontem (13) à noite. Desta vez, o problema se deu na Linha 5-Lilás, que corta parte da zona sul da capital paulista, no segundo episódio grave em uma semana. Como no episódio anterior, na Linha 3-Vermelha, usuários se viram forçados a andar sobre os trilhos.

Ontem, porém, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, eles foram orientados pelos funcionários do Metrô. A origem do problema, diz a empresa, foi o rompimento de um cabo da rede elétrica na região da estação Giovani Gronchi, o que deixou uma extensão de 800 metros sem energia. A nova falha ocorre dois dias após a abertura de uma nova estação na Linha 5, a Adolfo Pinheiro, que ainda opera em estágio experimental.

A pane afetou o funcionamento de outras linhas durante a noite, e nesta manhã tanto a Linha 5 como a Linha 3 operam com velocidade reduzida. A prefeitura foi acionada e 30 veículos do Plano de Apoio entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência (Paese) são oferecidos em paralelo ao trajeto dos trens da zona sul. A Linha 5 atende 254 mil usuários por dia.

Desde o ano passado o Metrô vem apresentado falhas cada vez mais frequentes, como têm mostrado reportagens da RBA. A linha do governo estadual e da empresa tem sido a de negar os problemas, que, em muitos casos, colocam em risco a segurança de usuários e funcionários, conforme as denúncias têm apresentado.

Por enquanto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não comentou o novo episódio. Na semana passada, após a pane na Linha 3, quando usuários passaram mal e tiveram de caminhar pelas passarelas entre as estações, dentro de túneis, o tucano lançou mão da tese da sabotagem para explicar a questão, como já havia feito outras vezes. “Eu não acredito que essas coisas sejam geração espontânea, acho que precisa ser investigado com seriedade, verificar com câmeras de vídeo qual a origem disso”, apregoou.

Antes, o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, havia dito que o problema havia se agravado pela ação do que classificou como vândalos.  “Por volta de 18:19, tivemos um problema de porta numa composição. Isso nós resolvemos em dez, 15 minutos. Você retira as pessoas daquele carro, não precisa ser da composição inteira, e um segurança, com uma fita de isolamento, dá continuidade ao percurso da viagem e depois ele é recolhido no terminal.”

Não satisfeito, esta semana apelou à teoria de que foram acionados, simultaneamente e com intenções de boicote, botões de emergência “secretos”. Botões que, na realidade, não têm nada de secretos, pois estão posicionados nas plataformas. De fato, são para uso apenas de funcionários, mas não se pode descartar que usuários em uma situação emergencial tenham se decidido a acioná-los.

Registros oficiais do próprio Metrô obtidos pela RBA demonstram, porém, que já havia ocorrências de usuários caminhando pelas passagens de emergência entre as estações Santa Cecília e Marechal Deodoro às 19h – ou seja, 36 minutos antes de o primeiro “botão secreto” ter sido acionado.

A RBA alerta há seis meses sobre a ocorrência de falhas cada vez mais graves no Metrô, especialmente na Linha 3, que liga a zona leste da capital a bairros centrais. As investigações mostram que trens da frota K apresentam um índice de falhas muito superior a composições antigas. No último sábado, por exemplo, um desses trens voltou a abrir as portas em movimento, o que já havia ocorrido no ano passado, quando, procurado pela reportagem, o Metrô inicialmente negou a falha, mas depois acabou admitindo sua ocorrência.

Os trens da frota K foram reformados pelas empresas CAF, Alstom e MTTrens, envolvidas em um cartel denunciado desde 2008 ao governo estadual, mas que apenas no ano passado passou a ser efetivamente investigado, depois que uma das participantes do conluio, a Siemens, apresentou denúncia ao Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade), subordinado ao Ministério da Justiça. As informações dão conta de que as corporações pagaram propinas a funcionários do governo estadual paulista em troca de garantia de contratos bilionários.

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