Transporte público

Em dia ‘especialmente caótico’, Metrô registra falhas em 16 trens e recolhe três

Defeitos atingiram, em sua maioria, sistema de ar-condicionado, mas também houve panes em portas e superaquecimento de motor em frotas novas e reformadas por empresas envolvidas em cartel

Danilo Ramos/Arquivo RBA

Falhas constantes agravam atrasos e superlotação no sistema metroviário: população é quem sofre

São Paulo – Em dia classificado por funcionários como “especialmente caótico”, o Metrô de São Paulo registrou, na última segunda-feira (9), falhas relevantes em pelo menos 16 trens. Três deles tiveram de ser recolhidos. Foram panes no ar-condicionado, em sua maioria, mas também houve defeitos em portas, freios e motor. Os problemas ocorreram quase todos no horário de pico da tarde. E atingiram composições novas e reformadas por empresas envolvidas em denúncias de formação de cartel. O Metrô não desmente as ocorrências.

Fez bastante calor na cidade de São Paulo no último dia 9 de dezembro. De acordo com a agência meteorológica Climatempo, às 20h, termômetros na zona norte da capital marcavam 31°C e, na zona sul, 28°C. Por alguma razão ainda desconhecida dos metroviários, doze composições apresentaram, simultaneamente, falhas de ar-condicionado: os trens H54, H55, H59, H60, H61, H62, H65 e H67, produzidos pela espanhola CAF; G26, fabricado pela francesa Alstom; L26, reformado pelo consórcio Alstom-Iesa; e as composições pertencentes à frota recordista em problemas graves, K05 e K07, modernizados pelo pool empresarial MTTrens.

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As companhias estão envolvidas nas acusações de formação de cartel para burlar editais de concorrência e superfaturar preços em contratos para fornecimento de equipamentos e ampliação da malha metroferroviária paulista. As denúncias foram feitas por executivos da alemã Siemens, uma das firmas envolvidas no esquema, em troca de penas mais leves, caso haja condenação. A fraude contaria com o beneplácito de membros da administração do PSDB no governo do estado. O caso está sendo investigado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

“Quando o ar-condicionado fica muito tempo inoperante, os usuários podem começar a acionar a saída de emergência, porque esses trens não têm basculantes”, diz um funcionário da Linha 3-Vermelha, palco dos problemas. O metroviário, que prefere manter o anonimato para evitar perseguições, lembra que as frotas novas e reformadas da companhia não possuem janelas – e que, por isso, o funcionamento da ventilação é imprescindível. “Isso é um problema sério: com o trem lotado, as pessoas começam a passar mal. Já houve problema de passageiros descendo à via por falhas de ar-condicionado.”

Na tentativa de solucionar as panes no sistema de climatização, todos os funcionários a postos para atuar em situações de emergência, os chamados “circulantes”, acabaram sendo acionados. Na Linha Vermelha, no horário de pico, costuma haver pelo menos treze circulantes para auxiliar na correção problemas, sejam graves ou corriqueiros. Por volta das 20h30, o Centro de Controle Operacional (CCO) passou uma instrução pelo rádio dos funcionários: não há pessoal disponível para ajudar na solução de falhas, todos os circulantes estão envolvidos em panes de ar-condicionado. A situação apenas começaria a se normalizar por volta das 22h.

Outras falhas

“Foi um dia especialmente caótico”, avalia o metroviário, informando que as falhas no controle temperatura dos trens não foram os únicos transtornos da jornada. “Antes do ar-condicionado começar a falhar, houve falhas de portas no K07, que teve que ser evacuado e recolhido”, continua, afirmando que o defeito acometeu o trem na estação Brás, quando se deslocava no sentido Palmeiras-Barra Funda, pouco antes do horário de pico. “Era problema de sinalização: a cabine indicava que as portas estavam abertas, mas estavam fechadas. O operador fica sem saber.”

Motivo de piada entre os metroviários, o K07 é a composição que descarrilou em 5 de agosto e que abriu todas as portas sozinho em 2 de outubro. Mas não é o único da frota que preocupa. “O K11 é o novo trem problemático da Linha 3-Vermelha”, diz o funcionário. Na última segunda-feira, o K11 também apresentou problemas de portas. O defeito, porém, pôde ser rapidamente contornado.

No mesmo dia, outra composição da frota K ainda causaria transtornos: o K10 cumpriu o trajeto entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Corinthians-Itaquera por três vezes apresentando ruído anormal. “Houve relatos tanto de usuários como de funcionários”, explica o metroviário. “Quando estacionou na estação Palmeiras-Barra Funda, a manutenção detectou superaquecimento no motor. A composição teve que ser recolhida.” Foi também por superaquecimento – só que no truque – que o trem K07 descarrilou nas cercanias da estação Palmeiras-Barra Funda há cinco meses.

Finalmente, o trem L27 apresentou pressão de ar indevida nas tubulações e entrou em freio de emergência. “A tubulação de ar envolve vários sistemas: abertura e fechamento de portas, altura dos vagões, freios etc. Se não funciona direito, o trem entra em freio de emergência porque o trem não consegue funcionar.” Após algumas tentativas de contornar a pane, conta o funcionário, a composição teve que ser recolhida. “Foi evacuada na estação Pedro II e encaminhada ao pátio Itaquera.”

‘É normal’

Procurado para comentar as denúncias, o Metrô não desmentiu a ocorrência de nenhuma das panes. Tampouco respondeu a todas as perguntas da reportagem, com a exceção de uma: “Não houve caos na segunda-feira”. A companhia argumentou que “todos os sistemas metroviários do mundo estão sujeitos a falhas, e elas são proporcionais ao número de viagens realizadas, à quilometragem percorrida e quantidade de passageiros transportados”. Sobre os problemas cotidianos com composições novas e reformadas, o Metrô explica que, “por terem sido entregues recentemente, necessitam passar por ajustes, o que é absolutamente normal”.

Confira a íntegra da nota enviada pela empresa:

Não houve caos na segunda-feira, 9. Todos os sistemas metroviários do mundo estão sujeitos a falhas e elas são proporcionais ao número de viagens realizadas, à quilometragem percorrida e quantidade de passageiros transportados. No Metrô de São Paulo, são mais de 4,5 mil viagens, que percorrem 74 mil km e transportam 4,6 milhões de usuários diariamente com segurança e confiabilidade.

Para se ter uma ideia, todos os dias, são feitos mais de 3 milhões de ciclos de abertura e fechamento das portas. Isso quer dizer que, cada trem abre e fecha as portas 25 mil vezes ao dia. O indicador de ocorrências no Metrô é de 3,19 ocorrências por milhão de quilômetros percorridos, índice que se enquadra dentro dos padrões internacionais.

Esclarecemos ainda que os trens de todas as frotas do Metrô passam periodicamente por rigorosos processos de manutenção preventiva e corretiva, e que a prioridade da empresa é sempre a segurança dos usuários. Trens novos e modernizados, por terem sido entregues recentemente, necessitam passar por ajustes, o que é absolutamente normal.

O Metrô de São Paulo é reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Em 2012, conquistou o prêmio de Melhor Metrô das Américas, concedido durante o The Metros Awards, a principal premiação do setor metroviário internacional, devido ao alto índice de confiabilidade, segurança e regularidade.

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