RESPOSTA

‘Meu pai é um herói popular’, afirma filho de João Cândido

Adalberto Cândido, conhecido como seu Candinho, rebateu posicionamento oficial da Marinha contrário à inclusão do líder da Revolta da Chibata no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria

(Prefeitura de São João do Meriti)
(Prefeitura de São João do Meriti)
João Cândido, líder da Revolta da Chibata

São Paulo – O único filho vivo de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, criticou o posicionamento da Marinha de se colocar contra a inclusão de seu pai no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. “Parece que nutrem um ódio. Eles deviam agradecer aos marinheiros por terem feito a Marinha evoluir”, disse Adalberto Cândido, conhecido como seu Candinho, em entrevista à Agência Brasil nesta sexta-feira (26). A Revolta da Chibata ocorreu em 1910, no Rio de Janeiro, como reação a castigos corporais, como o açoite, aplicados aos marinheiros.

Seu Candinho deixou claro que a posição da Marinha não o surpreendeu. “Ela não se envolve em nenhum evento relacionado com meu pai. Quando houve a cerimônia de instalação da estátua do meu pai na Praça XV, no Rio de Janeiro, não tinha ninguém da Marinha presente”, disse. “Mas não quero que meu pai seja herói da Marinha, quero que seja um herói do povo. Meu pai é um herói popular. A verdade é que a Marinha não se atualizou como deveria”, acrescentou.

(Fernando Frazão/Agência Brasil)
Adalberto Cândido, filho de João Cândido (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Marcos Sampaio Olsen

A inclusão de João Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria depende da aprovação do Projeto de Lei 4046/2021, atualmente tramitando na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. Na segunda-feira (22), o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, enviou uma carta oficial endereçada ao deputado federal Aliel Machado (PV), que preside a comissão. “A Força Naval não vislumbra aderência da atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo; e sim, flagrante que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro”, registra o texto. Ele, ainda, classifica o levante de 1910 como uma “deplorável página da história nacional” que se deu pela “ação violenta de abjetos marinheiros”.

Até conseguir

Em postagens nas suas redes sociais, o deputado federal Lindbergh Farias (PT), autor do Projeto de Lei 4046/2021, manifestou indignação com a posição da Marinha. “A nossa luta para ver João Cândido herói nacional não vai parar”, escreveu o deputado, compartilhando também imagens de uma visita feita a seu Candinho na sexta-feira.

O Projeto de Lei 4046/2021 já foi aprovado no Senado Federal. Na Câmara dos Deputados, embora tramitando há mais de dois anos, ele ainda se encontra nas primeiras etapas. A Comissão de Cultura deve ser a primeira a analisá-lo. A deputada Benedita da Silva (PT) foi designada relatora e apresentou seu parecer em julho de 2022, mas até hoje ele não foi votado. A parlamentar se manifestou de forma favorável e considera que a inclusão de João Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria seria uma “reparação histórica”.

Chico Mendes, Zumbi, Santos Dumont

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um livro de aço voltado para perpetuar, através do registro do nome, a memória dos brasileiros que se destacaram na história do país. Desde que foi criado, em 1992, já foram homenageados 64 pessoas, entre eles Tiradentes, Anita Garibaldi, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis e Santos Dumont. Ele fica depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, monumento localizado em Brasília. A inclusão de novos nomes só ocorre mediante aprovação de lei pelo Congresso Nacional.


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