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‘Nós avisamos’, afirmam funcionários sobre mais recente caos no Metrô de São Paulo

Desde 2011, Sindicato dos Metroviários alerta sobre problemas recorrentes nos trens. RBA publica denúncias há seis meses. 'Estamos à beira de uma tragédia', diz presidente

Danilo Verpa / Folhapress

Passageiros passam mal após nova pane no metrô de São Paulo, na terça (4). Tragédia anunciada, mas ignorada

São Paulo – O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, lembrou hoje (5) que desde 2011 a categoria vem alertando a direção do Metrô e o Ministério Público sobre falhas constantes nos trens da frota K, que, segundo funcionários, foram os principais responsáveis pelo problema que paralisou o sistema por cinco horas ontem (4) durante horário de pico.

“O trem que iniciou o processo de problemas ontem foi o K07”, explica o sindicalista, em referência à composição que opera na Linha 3-Vermelha. O mesmo trem já descarrilou nas cercanias da estação Palmeiras-Barra Funda, em agosto, e abriu sozinho todas as portas do lado contrário da plataforma na estação Santa Cecília, em outubro. “No ano passado, entre 10 de outubro e 9 de novembro, houve 696 falhas só na frota K. São falhas registradas pelo próprio Metrô. Dessas 696 falhas, mais de 300 ocorreram só com o K07.”

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Os primeiros dossiês de funcionários sobre falhas na frota K datam de 2011. Há seis meses, a RBA publica denúncias de panes recorrentes em composições novas e reformadas adquiridas nos últimos anos pela estatal junto a empresas investigadas por formação de cartel. De acordo com denúncias de executivos da Siemens, uma das companhias envolvidas no esquema, o desvio de dinheiro ocorria em conluio com membros das administrações Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB. Promotores estimam que o chamado “propinoduto tucano” tenha roubado R$ 875 milhões dos cofres estaduais.

Segundo o Sindicato dos Metroviários, o mais recente caos começou com uma pane de portas no K07, “também bastante comum”, ocorrida às 18h18 na estação Sé, centro da capital. “Essa porta abriu, mas não fechou. Ficou emperrada. Teve que ser isolada, demorou bastante, em horário de pico, e o trem teve que ser evacuado na estação Brás”, explica Altino Prazeres, anotando que o defeito levou nove minutos para ser resolvido, segundo relatórios oficiais do Metrô. “A demora acabou acarretando outros problemas em outros trens. E o problema maior foi no ar-condicionado.”

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Série de problemas que paralisaram sistema por cinco horas teria começado com trem campeão de panes

Às 18h32, o sistema da empresa registrou falhas de climatização em seis carros de outra composição da frota K – a K24. A partir daí, as falhas se multiplicaram em outros trens, inclusive de outras frotas: H54, K01 e K14. O primeiro registro de usuários acionando a saída de emergência e descendo à via se deu às 19h, entre as estações Marechal Deodoro e Santa Cecília, também na Linha 3-Vermelha, localizadas na zona oeste de São Paulo. Ou seja, 40 minutos após a primeira falha.

“Tiveram que desenergizar a via na estação Marechal Deodoro, porque havia usuários nos trilhos, e os trens que usam ar-condicionado acabaram ficando sem resfriamento”, explica o presidente do sindicato. “Os vagões estavam superlotados e as pessoas obviamente tentaram sair. Quem já esteve nessa situação, dentro de um trem lotado, com ar-condicionado parado, sabe que é um desespero total. Que culpa tem o cara de querer sair daquele sufoco? Não tem culpa.”

Altino ressalta, porém, que os problemas de ar-condicionado não ocorreram apenas por causa da desenergização. “Esse conjunto de falhas, já sabíamos que estava ocorrendo há algum tempo”, continua. “Sempre dissemos que, ao não resolvê-los, a empresa estava trabalhando com a sorte, apostando na sorte. E que, se isso ocorresse no pico da tarde, com as pessoas voltando para suas casas, ia causar tumultos.”

O presidente do sindicato explica que irá cobrar novamente o Ministério Público sobre as denúncias, além de averiguar outras medidas legais que podem ser tomadas para reduzir a ocorrência de problemas no sistema. “A população está em risco, e os metroviários também”, diz. “Vamos consultar a categoria e possivelmente realizar uma assembleia para decidir como vamos lidar com esse problema.”

“Com o evento de ontem, está demonstrado que tudo aquilo que a gente falava faz sentido. A própria imprensa dizia que estávamos exagerando. Mas os fatos demonstraram”, sublinha Altino. “Nossa preocupação é que isso pode acontecer novamente, e o governo pode não ter tanta sorte. Estamos à beira de uma tragédia.”

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