Analistas estranham que ex-secretário tucano mantenha cargo após denúncias
Chefe da Casa Civil de Covas, Robson Marinho é acusado de receber propinas e continua como titular de tribunal encarregado de coibir corrupção, usando o cargo para se defender
Publicado 15/05/2014 - 15h08
São Paulo – Acusado de receber propinas para avalizar um contrato a favor da empresa Alstom em São Paulo, o tucano Robson Marinho não apenas continua à frente do cargo no Tribunal de Contas do Estado (TCE), como esta semana se valeu de uma sessão pública do órgão para se defender das acusações trazidas à tona nos últimos meses.
Os analistas políticos Paulo Vannuchi e Francisco Fonseca, em comentários na Rádio Brasil Atual, lamentaram que nem sequer se cogite afastar o ex-secretário da Casa Civil de Mário Covas (PSDB), enquanto seguem surgindo denúncias que o associam à quadrilha de empresas e agentes públicos que garantiu contratos superfaturados no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
“A Alstom e Siemens compõem uma dobradinha para a corrupção dos governos estaduais de são Paulo no decorrer dos últimos 20 anos. O que vai acontecer com Robson Marinho? Ele vai ficar nesse cargo?”, questiona Vannuchi, que compara o tratamento dado pela mídia tradicional a investigações envolvendo petistas e a apurações que digam respeito a tucanos. “Desde 2010, com argumentos incisivos dessa irregularidade toda? E não se afasta, não perde o licenciamento?”
Além de Marinho, são alvo de denúncia do Ministério Público Federal (MPF) os atuais secretários estaduais de Energia, José Anibal, e de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo, Rodrigo Garcia, todos próximos do governador Geraldo Alckmin.
Esta semana a Justiça suíça anunciou ter descoberto uma conta secreta para onde a Alstom enviou US$ 2,7 milhões a Marinho entre 1998 e 2005. O então secretário se valeu de uma empresa de fachada aberta em um paraíso fiscal para receber o dinheiro, fruto de um parecer favorável dado a um contrato pleiteado pela empresa francesa.
“Não é simplesmente uma corrupção tópica”, avalia Francisco Fonseca, professor da Fundação Getúlio Vargas. “É algo endêmico que o PSDB de São Paulo, tudo isso declarado pelos próprios corruptores no caso a Alstom, teria feito processo internacional de corrupção. Então eu acho que esse é o grande ponto, situações de denúncia, no caso do Marinho, aparentemente são mais de um elemento dentro desse contexto, mas que precisam ter provas cabais para que se identifique quem é quem.”
O caso era conhecido pelo Ministério Público Estadual desde 2008, mas não havia sido levado adiante até o ano passado, quando uma denúncia foi encaminhada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligado ao Ministério da Justiça, e quando um ex-diretor da Siemens decidiu delatar o esquema, amparado no pagamento de propinas a agentes públicos em troca da garantia de atuação de um cartel de corporações privadas nos principais contratos do sistema estadual paulista de transportes.
Esta semana, após as novas denúncias, Marinho usou o plenário do Tribunal de Contas para se defender. “Eu quero reafirmar aqui: nunca dei nenhum voto neste tribunal pra favorecer a Alstom ou quem quer que seja. Portanto, não cometi nenhum desvio de conduta. Nenhuma conta minha recebeu um tostão sequer, um dólar sequer da Alstom. Nem na Suíça, nem no Brasil. Volto a dizer. Então, o que eu espero e aguardo há mais de seis anos é que haja um processo legal, um processo formal para que eu possa me defender”, disse.
O Ministério Público paulista alegou que ainda espera a chegada de novos documentos para abrir um processo formal. A mesma justificativa é dada pelo Tribunal de Contas para explicar por que Marinho não é afastado.
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