Corrupção

Após ‘falha’, Suíça faz novo pedido de investigação do Metrô de São Paulo

Em nota, Ministério Público Federal informa que foi renovado acordo de cooperação com autoridades europeias sobre esquema de propina e formação de cartel no governo do PSDB

Du Amorim/Governo SP

Contratos para reforma e compra de trens são alvo de apuração do Ministério Público

São Paulo – O Ministério Público Federal anunciou hoje (1º) que a Suíça fez um novo pedido de cooperação nas investigações sobre o esquema de pagamento de propina a funcionários do governo do PSDB em São Paulo envolvidos em licitações do Metrô. A informação foi divulgada após a revelação de que, por uma “falha técnica”, o pedido da nação europeia foi colocado em uma pasta errada e, por isso, não renovado a tempo, o que levou as autoridades daquele país a determinar o arquivamento das denúncias.

A colaboração existe desde 2011 neste caso, e diz respeito à movimentação financeira dos consultores Arthur Teixeira, Sérgio Teixeira e José Amaro Pinto Ramos, suspeitos de intermediar as propinas pagas pela Alstom, e do ex-diretor da CPTM João Roberto Zaniboni, que teria recebido US$ 836 mil (equivalentes a R$ 1,84 milhão) da Alstom na Suíça.

Segundo a nota divulgada pelo MPF, a Secretaria de Cooperação Internacional do órgão apresentou ontem um relatório sobre a demora no cumprimento das medidas solicitadas. A apuração, determinada esta semana pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, mostrou que houve “falha no envio direto do pedido pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério da Justiça (DRCI), à Procuradoria da República em São Paulo. A Corregedoria do MPF irá apurar se teria havido falha no não encaminhamento das providências solicitadas”.

Outra medida anunciada pelo MPF é a edição de uma portaria para regulamentar a tramitação interna de solicitações de cooperação internacional. Janot, que assumiu o cargo em outubro, cobrou ainda um inventário de todos os acordos firmados com órgãos de investigação de outras nações.

O caso sobre a “falha técnica” da equipe do procurador Rodrigo de Grandis, de São Paulo, provocou constrangimento dentro do MPF, como noticiou a RBA. Na quarta-feira, o Conselho Nacional do Ministério Público instaurou reclamação disciplinar para que se apure se houve dolo, ou seja, intenção de prejudicar as apurações.

O esquema de cartel em torno do Metrô é conhecido pelo Ministério Público Estadual de São Paulo desde 2008, mas as apurações não levaram a acusações no Judiciário. O caso veio à tona por meio de reportagens da revista IstoÉ, mostrou que as empresas participantes desembolsaram o equivalente a R$ 100 milhões em propinas a funcionários públicos e políticos tucanos, frente a contratos que somam ao menos R$ 12,6 bilhões.

Segundo depoimentos obtidos pela revista o próprio governador José Serra, que esteve à frente do Palácio dos Bandeirantes entre 2007 e 2010, chegou a propor a executivos que fatiassem os lucros de forma igualitária para evitar que eventuais questionamentos judiciais travassem a conclusão de processos licitatórios.

No final de setembro, a Justiça Federal quebrou o sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas pelo caso. Entre eles está o vereador da capital Andrea Matarazzo (PSDB), que foi secretário de Energia e presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e do Metrô, além de ter ocupado a chefia da Secretaria de Comunicação da Presidência da República em parte do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).