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Em carta, Milei recusa entrada da Argentina no Brics

Presidente ultradireitista disse considerar “inoportuna” a incorporação da Argentina ao Brics. País perde a oportunidade de fortalecer trocas comerciais sem depender do dólar

Eliana Obregón/Télam
Eliana Obregón/Télam
Milei: medidas de espírito neoliberal levaram a uma greve geral na semana passada

São Paulo – O presidente da Argentina, Javier Milei, enviou carta aos países integrantes do Brics recusando o convite para fazer parte do bloco. Ele afirmou que considera “inoportuna” a incorporação do país ao grupo das principais economias emergentes do mundo. A Argentina havia sido convidada a se juntar ao bloco em agosto, juntamente a outros cinco países – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Os novos membros passarão a integrar o Brics a partir de 1º de janeiro de 2024.

Em carta ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente argentino destacou que sua política externa “difere em muitos aspectos” da administração anterior. Apesar da recusa, Milei destacou o compromisso do seu governo com a “intensificação dos laços bilaterais” com o Brasil.

Do mesmo modo, o governo argentino também encaminhou a mensagem aos presidentes da Rússia, Índia, China e África do Sul.

Anteriormente o então presidente argentino Alberto Fernández pleiteava a entrada da Argentina no Brics. Ele chegou a afirmar que “o difícil contexto internacional confere ao bloco uma relevância singular e se constitui em uma referência geopolítica e financeira importante, embora não a única, para este mundo em desenvolvimento”.

Durante a campanha eleitoral na Argentina, no entanto, o novo líder ultradireitista declarou que não iria “impulsionar” acordos com “comunistas”. Milei colocou nesse mesmo balaio tanto a China, como Rússia e Brasil. E defendeu o alinhamento da Argentina com países que compõem o “mundo livre”, segundo ele, como Estados Unidos e Israel.

No final de novembro, após a vitória de Milei, mas ainda antes da posse, a então futura ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, declarou nas redes sociais: “Não nos juntaremos ao Brics”. 

Na contramão

A decisão do novo governo argentino vai na contramão dos esforços pela criação de uma nova ordem multipolar. Somados os cinco países originais dos Brics têm um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 24,7 trilhões e cerca de 3,2 bilhões de pessoas. Com a entrada dos novos países – incluindo a Argentina – o bloco passaria a representar 36% do PIB e 46% da população mundial.  A saída do país comandado por Milei representa cerca de US$ 1 trilhão a menos no PIB e 45,8 milhões de pessoas a menos (dados de 2021).

Para a Argentina, a exclusão do Brics deve significar a perda de investimentos volumosos, principalmente da China. No ano passado, Fernandéz também celebrou a entrada do país nas Novas Rotas da Seda – iniciativa de integração patrocinada pelos chineses. A previsão é que os acordos de cooperação com os chineses renderiam US$ 23,7 bilhões de investimentos à Argentina nos próximos anos. A postura refratária do novo governo argentino deve congelar, ou ao menos retardar, a entrada de recursos chineses.

Outro “tiro no pé” é que a Argentina sofre com escassez crônica de dólares, o que dificulta o intercâmbio comercial com todos os outros países. Por outro lado, os Brics vem liderando esforços de “desdolarização“, apoiando a utilização de outras moedas nas trocas comerciais entre os países do bloco. Ao mesmo tempo, a Argentina também não vai poder contar com linhas de financiamento do Novo Banco de Desenvolvimento – conhecido como Banco dos Brics – atualmente sob comando da ex-presidenta Dilma Rousseff.