MPF abre inquérito para apurar possível colaboração da Usiminas com a ditadura
É a quarta investigação aberta em Minas Gerais. As demais envolvem Belgo Mineira, Mannesmann e Fiat
Publicado 21/11/2023 - 16h30
São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) instaurou inquérito civil para apurar eventual colaboração da Usiminas com os órgãos de repressão da ditadura (1964-1985). O objetivo é investigar também a “sistemática violação de direitos humanos” cometida naquele período. É a quarta empresa em Minas Gerais incluídas em investigações do MPF.
O ponto de partida é relatório da Comissão da Verdade em Minas Gerais. Que remete para episódio ocorrido, inclusive, antes do início da ditadura. Em 7 de outubro de 1963, a força policial-militar atirou contra trabalhadores que protestam diante da siderúrgica, na cidade de Ipatinga. Oficialmente, morreram oito pessoas, enquanto 92 ficaram feridas. Este teria sido “o conflito operário mais sangrento e com maior número de vítimas já ocorrido no Brasil”.
Envolvimento do empresariado
“Em seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) aponta o envolvimento do grande empresariado com o aparelho de repressão do regime militar”, lembra ainda o MPF. “Segundo o documento, a aliança de empresas com o regime autoritário que vigorou no Brasil até 1985 buscava reprimir a organização dos trabalhadores, tendo como alvo principal os movimentos sindicais.”
Assim, agentes dos órgãos de repressão se infiltravam nas fábricas, colaborando com as empresas e buscando operários “subversivos”. Foram criadas mecanismos, articulados entre empresas e ditadura, que possibilitavam a criação das chamadas “listas negras”, para denunciar trabalhadores, que eram presos e/ou demitidos.
Antes da Usiminas, a MPF em Belo Horizonte abriu inquéritos para investigar ações da Fiat e das siderúrgicas Belgo Mineira e Mannesmann. “De acordo com relatório da CNV, essas empresas teriam colaborado com o sistema de repressão do governo militar em troca de informações sobre o movimento sindical. As investigações ainda estão em curso.”
Perseguição a trabalhadores
Segundo o Ministério Público, as pesquisas sobre a Belgo Mineira e a Mannesmann começaram em janeiro e devem ser concluídas no mês que vem. Já a investigação sobre a Fiat foi finalizada, “estando pendente apenas da complementação de alguns dados pelos pesquisadores, o que também deverá ocorrer até o fim de 2023”.
A questão das empresas e a perseguição a trabalhadores e ativistas sindicais foi incluída em um dos grupos da Comissão Nacional da Verdade. Apesar de extensas informações, pouco se avançou na responsabilização. O caso mais notório ainda é o da Volkswagen.
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