STF

Allan dos Santos usou estagiária de Lewandowski como informante

Alexandre de Moraes determinou que a PF ouça imediatamente a ex-funcionária Tatiana Garcia Bressan, apontada como informante, após ter seu sigilo quebrado

Roque de Sá/Agência Senado
Roque de Sá/Agência Senado
Tatiana disse a Allan dos Santos que ministros do STF "decidem o que querem e como querem"

São Paulo – Mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF) indicam que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos usou uma estagiária do gabinete do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), como informante. As conversas, reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (6), foram obtidas por meio de quebra de sigilo telemático e telefônico.

Diante do exposto, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a PF ouça imediatamente a ex-funcionária Tatiana Garcia Bressan, apontada como informante. Ela será ouvida no âmbito do inquérito das fake news, no qual Allan é investigado. O blogueiro também é alvo de outra ação no STF que investiga o financiamento dos atos antidemocráticos.

De acordo com a reportagem, Tatiana estagiou no gabinete de Lewandoski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019. E as conversas entre ela e Allan dos Santos ocorreram entre 23 de outubro de 2018 e 31 de março de 2020.

No primeiro contato entre os dois, ela demonstra interesse em trabalhar na equipe da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), e diz que está no gabinete do ministro. “Fique como nossa informante lá”, diz o dono do site Terça Livre, conhecido por disseminar informações falsas. A estagiária responde: “Será uma honra. Estou lá kkk”.

As conversas

Perguntada sobre o que teria visto de “mais espantoso” no gabinete de Lewandowski, Tatiana afirmou que os ministros “decidem o que querem e como querem”. Além disso, apontou que algumas decisões seriam modificadas “porque alguém importante liga pro ministro”.

Também relatou que houve um “corre-corre danado” quando o ministro Luiz Fux censurou entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso em Curitiba, para a Folha às vésperas das eleições de 2018. O ministro derrubou liminar concedida por Lewandowski autorizando a conversa.

Além disso, contou que a “piada” do dia anterior na Corte era que “estavam todos esperando o soldado e o cabo para fechar o STF”, em referência à fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em julho de 2018. “Difícil ouvir rsrs”, disse a estagiária.

“Acha que isso tem mudado lá dentro?”, questiona Allan. “Sim. Todos atentos: ‘Agora temos um general na presidência’! kkk Inclusive Toffoli (então presidente do STF) nem fala mais em ditadura de 64. Fala em ‘movimento de 64′”.

Tatiana pontuou que o general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, “tem trânsito com quase todos os ministros”. “Quando ele liga, o Lewandowski o atende prontamente”, relatou ela ao blogueiro Allan dos Santos.

Respostas

À Folha, Tatiana negou que tivesse atuado como informante de Allan. Disse apenas que ambos tinham ligação pois foram alunos do escritor Olavo de Carvalho. Já o blogueiro não se manifestou. Diante do avanço das investigações contra ele, Allan dos Santos se mudou para os Estados Unidos em meados do ano passado. Além dos inquéritos no STF, a CPI da Covid também investiga se o Terça Livre teria sido financiado pelo empresário Luciano Hang, inclusive com a utilização de recursos enviados de paraísos fiscais.

Por outro lado, o gabinete do ministro Lewandowski afirmou, em nota, que todas as decisões proferidas pelo ministro “têm fundamentação constitucional e a eventual modificação delas ocorre por meio de recursos cabíveis, apresentados nos autos e julgados individual ou coletivamente (plenário ou turmas)”.

“Como de praxe no STF, o ministro Lewandowski atende os telefonemas institucionais, principalmente vindos de autoridades da República. Na época mencionada, o general Villas Bôas era comandante do Exército Brasileiro”, disse a assessoria do ministro.