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Brancos e com ensino superior: país tinha 7,4 milhões no teletrabalho em 2022

Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, quem atuava nessa modalidade ganhava duas vezes mais que a média brasileira

Brisa Gil/Agência IBGE Notícias
Brisa Gil/Agência IBGE Notícias
Quase 70% tinham nível superior. A proporção também era muito maior entre os profissionais das ciências e intelectuais, grupo que inclui, por exemplo, engenheiros, advogados, economistas, professores e diversos profissionais da área de TI

São Paulo – No ano passado, o país tinha 7,4 milhões de pessoas no chamado teletrabalho, habitual ou ocasional, o que representa 7,7% dos ocupados que não estavam afastados do trabalho (96,7 milhões). Segundo Gustavo Fontes, analista da pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (25) pelo IBGE, a pandemia de covid-19 impulsionou a atividade. “Mesmo com o arrefecimento da pandemia, com o fim da situação de emergência sanitária, percebemos que muitas pessoas seguem trabalhando nessa condição, pelo menos parcialmente”, observa.

No total, 9,5 milhões de pessoas exerceram trabalho remoto no ano passado. Mas nem todos no teletrabalho, feito em local alternativo e que exige utilização de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) – como computadores, telefones e tablets. O IBGE lembra que a classificação é da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dessa forma, eram 7,4 milhões em teletrabalho e 2,1 milhões em trabalho remoto, sem uso de equipamentos.

Ambiente alternativo e com equipamentos

O estudo divulgado hoje faz parte de módulo inédito da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Foi feito em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT). “As estatísticas divulgadas na publicação são experimentais, ou seja, estão em fase de teste e sob avaliação”, diz o IBGE.

“Para ser considerado trabalho remoto, é preciso que o trabalho seja realizado em ambiente alternativo ao local padrão de trabalho. Ou seja, em local diferente daquele em que tipicamente se esperaria que fosse executado, considerando tanto a ocupação exercida pela pessoa quanto a sua posição na ocupação”, explica Gustavo Fontes. “Vamos supor que uma pessoa trabalhe por conta própria, em sua casa, na produção de pães e bolos para vender. Como o próprio domicílio é o lugar de funcionamento de seu negócio, para essa pessoa, trabalhar no domicílio não é considerado trabalho remoto. Já o teletrabalho é uma subcategoria do trabalho remoto, ocorrendo quando se utilizam equipamentos TIC para realizar as tarefas do trabalho”, acrescenta.

Maioria com ensino superior no teletrabalho

Se na média a atividade concentrava 7,7% dos ocupados, o percentual caía para 6,8% entre os homens e subia para 8,7% no caso das mulheres. Havia predominância de pessoas brancas (11%) em relação a pretas (5,2%) e pardas (4,8%). No recorte por idade, o grupo de 25 a 39 anos tinha 9,7% dos ocupados nessas funções. E subia para 23,5% entre os trabalhadores com ensino superior completo.

“De todos os teletrabalhadores, quase 70% tinham nível superior. A proporção também era muito maior entre os profissionais das ciências e intelectuais, grupo que inclui, por exemplo, engenheiros, advogados, economistas, professores e diversos profissionais da área de TI, e entre as pessoas em cargos gerenciais e de direção. Esses tipos de ocupação tendem a ser mais favoráveis ao teletrabalho”, observa o analista.

Homens, brancos e jovens

Se considerados apenas os ocupados no teletrabalho, os homens representavam 51,2% e as mulheres, 48,8%. Quase metade do total (49,6%) tinha de 25 a 39 anos, enquanto 35,4% se situavam entre 40 e 59 anos. Trabalhadores brancos representavam 63%, ante 27,1% de pardos e 7,7% de pretos.

“Esses dados podem estar relacionados à inserção no mercado de trabalho, bem como ao nível de instrução”, acrescenta o analista da pesquisa. “Sabemos que os cargos gerenciais e as ocupações de natureza científica ou intelectual têm predomínio de pessoas brancas. Isso pode explicar a diferença dessas taxas. É um reflexo da desigualdade no acesso à educação superior e às ocupações de maiores remunerações no país.”

Entre as categorias profissionais, predominavam no teletrabalho, nesta ordem, os empregadores, empregados no setor público e empregados no setor privado com carteira assinada. Em menor proporção, empregados sem carteira e trabalhadores por conta própria.

De acordo com o estudo, o rendimento médio de quem realizou teletrabaho foi de R$ 6.479 – valor 2,4 vezes maior que a média da população ocupada (R$ 2.714). As jornadas semanais eram semelhantes: 39,7 horas entre os trabalhadores e 39,3 horas para os demais.

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