Dilema

‘Se tiver problema para Amazônia, não será explorado’, diz Lula sobre petróleo na Margem Equatorial

Após voltar do G7, presidente deve arbitrar sobre disputa entre setores do governo que são contrários e a favor da perfuração que pode abrir uma nova fronteira de exploração do petróleo no Brasil

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Lula disse que acha "díficil" haver problemas na perfuração do bloco na na Margem Equatorial: "É 530 km de distância da Amazônia"

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (22) que espera chegar ao Brasil para “cuidar” da polêmica sobre a exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial, no litoral norte do país. Em Hiroshima, onde participou da reunião do G7, Lula disse que se houver risco, o petróleo não será explorado. Mas ponderou, alegando que a área que a Petrobras pretende perfurar fica a mais de 500 quilômetros de distância da foz do rio Amazonas.

“Se explorar esse petróleo tiver problemas para a Amazônia, certamente não será explorado. Mas eu acho difícil, porque é 530 km de distância da Amazônia. Mas eu só posso saber quando eu chegar lá (no Brasil]”, declarou o presidente.

Na última quarta-feira (17), alegando um “conjunto de inconsistências técnicas”, o Ibama negou licença requerida pela Petrobras para perfuração marítima na região. A decisão do órgão ambiental culminou inclusive com a saída do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues da Rede Sustentabilidade.

A divergência partidária expôs o “racha” entre senador e a a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o principal nome da legenda. Para ele, posição do Ibama compromete as possibilidades de desenvolvimento do seu estado, o Amapá.

Ontem, pelas redes sociais, Lula chegou a defender o desenvolvimento sustentável da Amazônia, referindo-se ao potencial de petróleo da Margem Equatorial.

Queda de braço

No dia seguinte, a Petrobras anunciou que vai recorrer da decisão do Ibama, alegando “que atendeu rigorosamente todos os requisitos do processo de licenciamento”. A estatal defende a exploração da Margem Equatorial como forma de ampliar as fronteiras de exploração de petróleo no país. Desse modo, o desenvolvimento da região é importante para garantir a segurança energética do país e financiar a transição “justa e sustentável” para outras fontes de energia limpa, segundo a companhia.

O Ministério do Meio Ambiente reagiu no mesmo dia. A pasta de Marina disse, em nota, que “compete exclusivamente ao Ibama” as decisões sobre licenciamento ambiental. Sobre o pedido da Petrobras, o ministério afirmou que “não há elementos que subsidiem uma manifestação favorável à licença.”

Em meio à polêmica, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, pediu à Petrobras que não retire a sonda e os outros recursos que haviam sido mobilizados na foz do rio Amazonas. Ele quer que os equipamentos permaneçam “por tempo adicional que possibilite o avanço das discussões com o Ibama”. Além disso, ele sugeriu que a estatal proceda com todos os esforços necessários para atender as condicionantes ambientais, garantindo uma prospecção “segura e sustentável” da área.

Do mesmo modo, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também se posicionou. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no fim de semana, ele classificou a negativa do Ibama como “uma chance de ouro que se perde”. Nesse sentido, destacou que a petroleira nunca registrou vazamentos em poços de perfuração. “Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas”, frisou.