Garganta vai bem

Lula define a ‘cara’ de seu ministério, mas só anuncia nomes depois da diplomação

Presidente eleito diz que novo ministério terá o mesmo desenho de seu segundo mandato, acrescido dos Povos Originários. “Podem publicar tudo o que dizem para vocês, mas só vai valer quando eu disser”

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Lula manteve Gleisi ao seu lado durante entrevista e disse que mantê-la presidenta do PT é um reconhecimento de sua importância. "Vai me ajudar a governar"

São Paulo – O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta sexta-feira (2) que está com 80% de sua equipe ministerial na cabeça. Mas que não anunciará nomes antes de sua diplomação – o reconhecimento formal de sua eleição –, marcada para o próximo dia 12. Isso porque, como afirmou, Lula não quer um Ministério para si, mas de todas as forças políticas que venceram as eleições. Em sintonia com as áreas temáticas do trabalho de transição, Lula ratificou que sua nova estrutura ministerial será a mesma de seu segundo mandato, acrescida de uma pasta dos Povos Originários.

Em entrevista coletiva na sede do Gabinete de Transição, o Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, Lula respondeu a perguntas sobre a transição e dificuldades que o novo governo encontrará ao assumir. “Estou convencido de que a situação do Brasil não é das melhores”, minimizou. Ele ironizou boatos sobre nomes de ministros, falou sobre seu bom estado de saúde, explicou encontro com José Sarney e descreveu uma possível agenda com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda sem data.

Além disso, Lula enalteceu o papel da deputada Gleisi Hoffmann na presidência do PT –  que considera mais importante do que em qualquer ministério. “Gleisi é a melhor presidenta de partido em atividade. Dizer que não vai ser ministra é um reconhecimento da importância dela no comando do maior partido de esquerda da América Latina. É o reconhecimento da grandeza dela, e não uma diminuição”, definiu.

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Lula também falou sobre a boa condição de saúde, após recente procedimento cirúrgico para remover uma lesão na laringe. “Minha garganta está boa, e eu não consigo ficar sem falar. Falei com a fonoudióloga e ela diz que está melhorando. Tem pessoas que fizeram a mesma cirurgia e ficaram um mês sem falar – eu não fiquei um dia. Acho que tenho ajuda divina. Estou comendo de tudo, não me engasguei com nada, e as pessoas se engasgam, sobretudo com água. Mas vou ficar bem. Eu preciso da minha voz para governar este país”, disse.

“Os médicos pediram para eu ficar mais tempo sem falar, mas sinceramente, por mais que eu faça esforço, eu não consigo. Só se colocassem um adesivo na minha boca.”

E voltou a responder sobre sua equipe econômica ao “mercado” – que faz perguntas por meio de jornalistas da mídia tradicional. Disse que não entende qual é a preocupação e lembrou que já presidiu o país por oito anos, listando uma série de conquistas sociais, econômicas, políticas e geopolíticas de seus mandatos. Reafirmou que seu Ministério da Fazenda terá “a cara do sucesso” de seus governos anteriores. “Não entendo tanto de ‘economia’, mas sei o que é bom para o povo, e sei o que é bom para o mercado. Mas as pessoas têm que saber que ganhei para governar para o povo mais humilde deste país. É a minha missão”, repetiu.

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Nesse sentido, explicou que a PEC da Transição – destinada a garantir recursos para o Bolsa Família de R$ 600 e mais R$ 150 por filho menor de 6 anos, “não é uma PEC do Lula”, mas do Bolsonaro. “Porque a PEC virá para recolocar no orçamento recurso que este governo não colocou.” Por outro lado, descartou qualquer possibilidade de parlamentares enxertarem emendas na PEC da Transição. Disse que na PEC não cabe mais nada, que ela será defendida da forma como está e que não tem visto nenhuma resistência – por parte do Congresso – que a faça ser “depreciada”.

Na maior parte do tempo bem-humorado e sereno, Lula admitiu que os relatórios que estão sendo preparados para diagnosticar a real situação do país apontam para uma “desgraceira”. “Querem deixar o país a zero, pra gente começar do zero. Mas podem fazer a desgraceira que quiserem, que nós vamos consertar este país”, reagiu. “Nós somos especialistas em desarmar bomba, não vamos deixar explodir. É importante que a gente atenda quem realmente necessita.”

E disse que quem não necessita, como o “dono de pizzaria, que atacou o (Gilberto) Gil no Catar, que mora em Miami e recebia Auxílio Brasil”, não vai receber. “Essa gente não vai receber. Vai receber intimações e processos, mas não auxílio do Estado.”

Entretanto, Lula ria a cada insistência por “pistas” de futuros ministros. “Quando for diplomado e tiver a vitória reconhecida, daí a gente anuncia os nomes. Não há por que ter pressa, se a posse é só em primeiro de janeiro.” Brincou dizendo ainda que gosta quando a imprensa publica especulações, “porque assim eu fico sabendo” o que estão dizendo. “Mas só vai valer quando eu disser.”

Ao dizer que tem 80% do ministério na cabeça, o presidente eleito explicou que não quer “um ministério para mim, mas para as forças políticas que ajudaram a vencer as eleições”.

Palpites

Lula voltou a ressaltar que as eleições de outubro não foram um pleito qualquer. “Eu não sei se existe em algum lugar do mundo alguém que utilizou tanto o aparelho do Estado para ganhar as eleições. Nunca vi. Não enfrentamos uma pessoa, mas um Estado e parte de suas instituições trabalhando para evitar a derrota do Bolsonaro.”

Perguntado sobre um possível encontro com Joe Biden, Lula diz que está no horizonte, mas ainda sem data, porque não pode viajar antes da diplomação. “Os Estado Unidos padecem de uma carência democrática igual ao Brasil. O que Trump fez por lá é como fizeram por aqui. Temos que falar sobre isso. E sobre o papel do Brasil na geopolítica mundial, sobre a guerra na Ucrânia, que totalmente desnecessária”.

Por outro lado, respondeu também por que encontrou-se com o ex-presidente José Sarney, cacique político que ainda tem muita influência no MDB e no Centrão.

lula ministério

“Foi uma visita a um homem que foi presidente da República e do Senado, que tem história, que já me ajudou muito e está com 91 anos – e vou demorar um pouco, mas vou chegar lá. Também já visitei o Fernando Henrique. São pessoas com quem, mesmo na divergência, tenho o que aprender.”

Cobrado para palpitar sobre os favoritos na Copa do Mundo do Catar, Lula disse que preferia não opinar e brincou com os “especialistas” da imprensa esportiva. “Depois do 7 a 1 diziam que a Alemanha era uma escola promissora, séria etc., mas não passa para as oitavas há duas copas.”

Comentou que o Brasil “precisa tomar cuidado” com Espanha, França e Inglaterra, mas que acredita no hexa. Apostou em 2 a 0 contra Camarões, embora admita que as seleções tidas como “menores” – como Costa Rica, Japão, Tunísia e Marrocos – estejam surpreendendo.

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