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Gleisi Hoffmann dispensa ‘perdão’ de Edir Macedo. ‘Ele é quem precisa pelas mentiras que propagou’

Líder da Igreja Universal, o bispo. que defendeu Bolsonaro e fez ataques à esquerda durante a campanha eleitoral, agora fala em “perdoar” Lula, segundo ele eleito por “vontade de Deus”

Marina Ramos / Câmara dos Deputados
Marina Ramos / Câmara dos Deputados
"Ele é que precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso", rebateu Gleisi

São Paulo – A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, reeleita deputada federal (PR), rebateu nesta sexta-feira (4) fala do bispo Edir Macedo sobre “perdão”. O líder da igreja evangélica Universal do Reino de Deus e dono da TV Record que, durante a campanha eleitoral, apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e atacou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu partido, publicou vídeo ontem defendendo como uma “posição mais cristã” o perdão a Lula, após a vitória do petista. 

Pelas redes sociais, a presidenta do PT afirmou “dispensar o perdão de Edir Macedo”. De acordo com a parlamentar, “ele é que precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso. A nossa consciência está tranquila”, rebateu Gleisi. 

No período eleitoral, publicamente a igreja de Macedo se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral. O jornal Folha Universal, produzido pelo grupo, divulgou uma série de editoriais nesse sentido, como no dia seguinte aos atos bolsonaristas que sequestraram as homenagens ao bicentenário da independência do Brasil, em 7 de setembro. O jornal dizia que a esquerda podia ” chorar copiosamente à vontade”, porque as “manifestações cívicas galvanizadas pelo presidente (Bolsonaro) deixaram claro que o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil”, afirmavam. 

Contradições

Em janeiro, o bispo Renato Cardoso, genro de Edir Macedo, publicou um artigo no site da igreja dizendo ainda que um cristão “não podia votar em partido de esquerda”. 

Ontem, no entanto, o fundador da Universal modulou o discurso, afirmando aos seus seguidores que “não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer”. “O diabo quer acabar com a sua fé, com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, não dá, minha filha, bola para frente, vamos olhar para frente”, afirmou. Edir Macedo ainda completou dizendo ter orado para que Bolsonaro ganhasse. “Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda. Deus fez a vontade Dele. Ele fez. Graças a Deus. Então, o que eu vou fazer agora?” 

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Fundador da Universal modulou o discurso, afirmando aos seus seguidores que “não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer” / Foto: Divulgação

Em setembro, reportagem do site The Intercept Brasil já indicava que, em meio a provável vitória de Lula, Edir Macedo se preparava para desembarcar da candidatura à reeleição do PL. Na reportagem, ele foi comparado por fontes ouvidas ao chamado “centrão” do Congresso. Em que, para se manter no poder, com qualquer um que ganhar, era preferível fazer um jogo duplo. Desde a eleição de Fernando Collor, em 1989, o líder neopentecostal se alinhou a todos os presidentes. 

Oportunismo

Não à toa, a fala desta quinta foi destacada como “fisiológica” por pares evangélicos e também políticos. “Ele se sente mais confortável com a extrema direita, mas é pragmático. Está fazendo aceno para se aproximar do Lula”, observou o pastor Henrique Vieira, eleito deputado federal (Psol-RJ), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo

Pelo Twitter, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, também ironizou a declaração de Edir Macedo. “Agora diz que Lula foi eleito pela vontade de Deus. Esse é profissional de salto em distância, já pulou de um barco direto para dentro do outro, sem sequer molhar a tanga. Até o fim do mês já trataram de ‘desbanhar’ o mito no Rio Jordão”, escreveu. O jornalista Chico Pinheiro, que atuou na campanha de Lula, questionou também a “arrogância” na fala do bispo.