Na TVT

‘Igrejas estão caindo da graça’, alerta pastor, sobre uso da religião nas eleições

Líder evangélico Ariovaldo Ramos criticou a perseguição ideológica nas igrejas. Ex-ministro Gilberto Carvalho afirmou que Bolsonaro não tem nenhuma identidade religiosa

Reprodução/TVT
Reprodução/TVT
Não é Lula, mas Jesus que pode fechar igrejas, quando estas perdem o seu "primeiro amor", afirma Ariovaldo

São Paulo – Na última edição do programa Daqui pra Frente, da TVT, o pastor Ariovaldo Ramos, desmentiu diversas fake news propagadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), especialmente ligadas às igrejas nas eleições. Ele rebateu, por exemplo, a falácia de que o candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se eleito, fecharia templos e demais espaços religiosos. Ou que o candidato trabalharia para implementar banheiros unissex nas escolas. Nesse sentido, o pastor alertou que muitas igrejas evangélicas brasileiras estão “caindo da graça”.

“Se você não vota de acordo com o pastor, você não será salve e não será visto como cristão. Isso é um absurdo. E isso, sim, pode levar Jesus Cristo a fechar uma igreja”, ressaltou Ariovaldo.

Ele destacou que muitas denominações estão estabelecendo comportamentos, padrões morais, formas e tarefas como méritos para a salvação. Inclusive, estabelecendo ideologias. “Se você não for da ideologia do pastor, você não é salvo, não é cristão. Isso é uma blasfêmia. E a ideologia desses pastores é uma ideologia bolsonarista. E isso é uma blasfêmia ainda maior”.

Como exemplo, ele citou passagem bíblica que relata que Jesus Cristo fechou uma igreja em Éfeso. “A igreja em Éfeso abandonou a ortodoxia, que é a consciência de que a redenção é um ato de Deus, por sua graça, mediante a fé que nos é dada pelo próprio Deus. E passou a ser uma igreja fundamentalista, cobrando tarefas, determinando quais comportamentos produziriam ou não salvação. E isso é cair da graça. Quando Éfeso caiu da graça, abandonando seu primeiro amor, deixou de existir”. Desse modo, ele citou que muitas igrejas evangélicas seguindo pelo mesmo caminho, ao perseguirem politicamente seus fieis.

Assista ao programa Daqui pra Frente

Poder e religião

Entrevistado pelos jornalistas Cosmo Silva e Ana Rosa Carrara para o Revista Brasil TVT no último sábado (22), o ex-ministro Gilberto Carvalho também condenou o uso eleitoreiro que Bolsonaro faz da religião católica. Ele criticou, especialmente, as idas do presidente ao Círio de Nazaré, em Belém, e à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, há cerca de duas semanas.

Para Carvalho, Bolsonaro não tem “nenhuma identidade religiosa”, mas uma identidade “neofascista”, “violenta” e “desumana”, como ficou provado pelas práticas adotadas pelo seu governo. Assim, ele afirmou que o ocupante veste “roupagens” como católico, ou como evangélico, de acordo com as suas conveniências.

“O que o Bolsonaro fez foi um uso grotesco, ridículo, uma tentativa de uso ridículo para ter benefícios eleitorais. E eu fiquei muito feliz com as atitudes, seja da arquidiocese de Belém seja de Aparecida, que deixaram claro que aquele momento não seria o momento para ser utilizado eleitoreiramente”, declarou.

Ele disse ver como “profético” e “esperançoso” movimentos da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outros coletivos católicos que repudiaram Bolsonaro pelo uso eleitoreiro da religião. “Toda vez que a Igreja se misturou com o poder na história da humanidade foi uma tragédia. É daí que vieram as inquisições, a legitimação da escravidão, por exemplo. Daí que vieram o silenciamento das igrejas durante algumas ditaduras, e assim por diante. A Igreja perde nitidez, perde o seu papel de denúncia e de anúncio quando ela se mistura com o poder. E o poder ,ao mesmo tempo, ganha um status de dominação da alma das pessoas, que não é admissível”, criticou.

Assista à entrevista