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Pastor afirma que muitas igrejas se ligam a Bolsonaro pelo ‘desespero do poder’

“Todo pastor sabe. Não é igreja que está ameaçada. É a posição que eles ocupam”, analisa pastor da Igreja Batista

Thiago dos Anjos/BdF-MG
Thiago dos Anjos/BdF-MG
"Muitas pessoas afirma, que chegaram a pensar que estavam ficando loucas, por não concordarem com a apologia bolsonarista de seus pastores"

São Paulo – O pastor Eliel Batista considera que o alinhamento muitos pastores evangélicos na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL) tem relação direta com disputa de poder. “O que é capaz de unir pastores tão diferentes, que nem se davam direito, de igrejas tão diversas. Se a teologia não une, seria a defesa da família? Também não. Essa é uma pauta usada como álibi. Mas sabemos que as igrejas estão cheias de crianças criadas pelas avós, só pela mãe, pela tia. Famílias em conflito, pé de guerra, divórcios”, observa.

Eliel é da Igreja Batista e integrante do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular e da Frente Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz. E desconstrói mentiras de que Lula seria uma ameaça às igrejas, pregada por pastores bolsonaristas. “Jamais. Sob a igreja de Cristo, só ele tem autoridade. Todo pastor sabe. Não é igreja que está ameaçada. É a posição política que eles ocupam. É o papel social. A mesma razão pelas quais pastores pentecostais, no passado, provocavam medo nos fieis, proibindo jovens de fazer Teologia. Eles diziam que quem fazia Teologia se desviava. Hoje, sabemos que quem fazia Teologia era ameaça à autoridade do pastor”, explica.

Narrativa da pandemia

Bolsonaro, além de propagar mentiras para disseminar pânico, abraça a postura negacionista em relação à pandemia de covid-19 por diversos prismas. No discurso adaptado aos evangélicos, ele acusa governadores de “fechar igrejas” durante os piores dias, quando morriam mais de 3 mil brasileiros por dia.

O pastor Batista explica que “no auge da pandemia, a briga por abrir ou não os templos não era sobre o que protegeria as pessoas; mas o fato de não ter o templo aberto, para líderes inseguros, ameaçava a posição de regente. Pela internet, você não tem o controle”, diz Eliel. “Assim, o político que defendida o templo aberto foi colocado ‘ao lado de Deus’. E quem defendia o cuidado com as pessoas era inimigo”.

Então, segundo ele, o que move esses pastores é “o desespero”. “A desestruturação do poder deles, da posição que ocupam. Pastores que percebem que perdem autoridade espiritual, lançam mão de autoridade política para controlar o rebanho.”

Falso Messias

Batista também relata estranhamento em como algumas igrejas se tornaram centros de culto a Bolsonaro, deixando de lado o Evangelho. “Muitas pessoas afirmam que chegaram a pensar que estavam ficando loucas, por não concordarem com a apologia bolsonarista de seus pastores”, afirma.

Em uma igreja do pastor bolsonarista Silas Malafaia, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, apelou para as mulheres para tentar salvar a imagem do presidente, deteriorada pelo desdém e ataques machistas constantes. “Não olhem para o meu marido, olhem para mim”, disse.

Batista lembra da deturpação personalista da fala. “A frase original evangélica: ‘Não olhe para os homens, olhe pra Jesus'”, explica.


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