A mão

Lira cria CPIs para Americanas, futebol e MST, e garante palanque a bolsonaristas

Ex-ministro de Meio Ambiente de Jair Bolsonaro Ricardo Salles, conhecido nos EUA como Senhor Motosserra, é favorito a assumir relatoria de CPI sobre sem-terra

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Após criada a CPMI do 8 de Janeiro pelo presidente do Senado, Lira criou três CPIs na Câmara

São Paulo – Depois de criada a CPMI do 8 de Janeiro pelo presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), determinou, na noite desta quarta-feira (26), a criação de três comissões parlamentares de inquérito.

  • CPI para investigar fraude nas Americanas;
  • CPI que vai investigar manipulação de resultados de partidas de futebol;
  • CPI para investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Segundo a Agência Câmara, as comissões da Americanas e do MST terão 27 membros titulares, enquanto a do futebol terá 34. Os membros serão designados pelos líderes partidários, respeitando a proporcionalidade das bancadas.

No requerimento em que pediu a CPI para investigar o escândalo da gigante do comércio varejista, no início de março, o deputado André Fufuca (MA), líder do PP na Câmara, argumentou que “cabe ao poder público zelar para que casos como o da Americanas sejam escrutinados, com a devida responsabilidade, para a garantia dos melhores interesses da economia nacional”.

Ele mencionou que a Americanas relatou inconsistência contábil de mais de R$ 20 bilhões, o que causou prejuízos aos investidores e ao mercado de capitais brasileiro, que, segundo ele, precisam ser protegidos. Tudo indica, portanto, que a “apuração” da comissão será superficial e não chegará aos reais interesses da Faria Lima, avenida da cidade de São Paulo onde se concentram os interesses do mercado financeiro.

Golpe cantábil

Jorge Paulo Lehmann, Beto Sucupira e Marcel Telles, da 3G Capital, são apontados como responsáveis por um “golpe” contábil que chega a R$ 40 bilhões no balanço das Americanas, que eles pretendem “terceirizar”. 

O economista Aurélio Valporto, em entrevista ao Brasil de Fato, diz que o que aconteceu é na verdade uma fraude. Ele afirmou que a irregularidade intencional ocorreu para minimizar dívidas reais da companhia.

Segundo o economista, “o que houve foi uma falha contábil para aumentar o resultado (o lucro) da empresa. O que era um passivo (obrigação) acabava sendo apropriado pelas contas de resultado, o que gerava um lucro que não existia”. Ele classifica o caso como “uma fraude monstruosa”.

No caso da CPI do MST, este colegiado passa a ser uma aposta da oposição bolsonarista no Congresso, como opção ao possível fracasso em relação à CPI do 8 de Janeiro. Antes vista como palanque para atacar o governo Lula, a comissão recém-criada está prestes a ser controlada pela base governista.

CPI do MST vira opção de alvo da oposição

Diante dos cálculos de que o governo deve indicar 20 dos 32 titulares na CPMI do 8 de Janeiro, formando portanto uma maioria sólida, a oposição “quer usar a CPI do MST de palanque para desgastar o governo”, segundo informa o blog do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

Tanto que o ex-ministro de Meio Ambiente de Jair Bolsonaro Ricardo Salles é favorito a assumir a relatoria da CPI do MST, com o apoio da bancada do agronegócio na Câmara. Um nome alternativo ao dele seria do deputado Evair de Mello (PP-ES). Considerado mundialmente um aliado do desmatamento, Salles ganhou, nos Estados Unidos, o apelido de Senhor Motoserra, inclusive no círculo do presidente Joe Biden.

O movimento foi um dos pilares da resistência popular ao golpe que derrubou Dilma Roussef, e aos governos Temer e Bolsonaro. Além disso, foi um dos principais alicerces da Vigília Lula Livre, que permaneceu diante da Polícia Federal em Curitiba durante os 580 dias em que Lula esteve preso.

“Assentamentos do MST produzem mais de 10 milhões de litros de leite por dia”, diz João Paulo Rogrigues.

Mas a ação do MST vai além das ocupações de terras improdutivas e manifestações sociais. O movimento é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Possui também projetos na área de agroindústria e se constitui na maior alternativa econômica ao agronegócio, dada sua capilaridade em todo o Brasil e sua defesa radical da agroecologia e da alimentação saudável.

Para o coordenador nacional do MST João Paulo Rodrigues, a base dos ataques ao movimento é constituída basicamente de mentiras disseminadas com objetivo de criminalizar a organização camponesa. “A direita usa redes sociais e fake news para tentar criminalizar o MST”, resume João Paulo, no programa Entre Vistas, da TVT. (Assista aqui.)

Daí o interesse da bancada ruralista, com apoio de setores da imprensa, de tentar desgastar o MST e colocá-lo na defensiva.

Futebol manipulado

Já o pedido da CPI para apurar a manipulação de resultados do futebol é do deputado Felipe Carreras (PSB-PE). A intenção seria investigar a existência de grupos criminosos que operam para controlar estatísticas e placares de partidas para lucrar em apostas de internet.

“A manipulação de resultados evoluiu e se tornou muito mais sofisticada e direcionada, alcançando inclusive, outras modalidades esportivas”, justificou o parlamentar.