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Stedile: CPI do MST é para desestabilizar o governo e desviar foco de crimes do agro

Segundo a liderança, do ponto de vista da luta política, a CPI é muito mais contra o governo do que contra o MST, seu aliado. Stedile propôs CPI para investigar desmatadores e agrotóxicos

acervo MST
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Presidente Lula, em terceiro mandato, segur com apoio do do MST

São Paulo – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende investigar atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi instalada para desestabilizar o governo e desviar o foco de crimes do agronegócio. A avaliação foi feita na tarde deste sábado (29) por João Pedro Stedile, integrante da coordenação nacional do MST. Ele participou da coletiva que anunciou os detalhes da feira nacional da reforma agrária que será realizada em São Paulo de 11 a 14 de maio, no Parque da Água Branca.

“Eles querem enquadrar o governo. Do ponto de vista da luta política, a CPI é muito mais contra o governo do que contra nós. É como dizer ao governo: ‘não avance na reforma agrária, não apresente plano de reforma agrária, não ajude o MST'”, disse Stedile.

Segundo ele, durante os primeiros governos petistas, boa parte dos parlamentares de direita e de seus apoiadores sempre insinuaram que o MST vivia de dinheiro público. Mas mesmo assim, o movimento saiu fortalecido após mais de seis anos sob os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Em vez de CPI do MST, investigar desmatamento e agrotóxicos

Para a liderança, “o que deveria ter é uma CPI para investigar quem desmatou, quem invade terra indígena, quem tem invasão em área de quilombola, quem usa agrotóxico”. E propôs investigações sobre atividades de latifundiários e do agronegócio.

Integrante da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, Stedile disse que houve avanços nas relações do movimento com o país asiático desde 2022, a partir de um acordo inicialmente assinado com o Consórcio Nordeste, para fornecimento de maquinário para pequenos agricultores.

E que após a visita deste mês, empresas chinesas enviarão cerca de 50 exemplares de máquinas agrícolas voltadas para pequenas propriedades. A chegada está prevista para agosto e setembro. Na sequência, haverá um período de testes. O passo seguinte será a criação de empresas com capital brasileiro e chinês para fabricação, no Brasil, das máquinas que se mostrarem mais úteis.

Fávero é homem sério, mas não sabe diferença entre invasão e ocupação

“Todos os nossos assentamentos precisam de máquina. Ninguém quer continuar com a enxada. Mesmo pra substituir o herbicida, por exemplo, que é o veneno, tem que ter uma capinadeira mecânica. Não vai ficar com a enxada capinando 10 hectares. Mas, se tem um tratorzinho, você capina e elimina o veneno, o herbicida”, disse.

Stedile também comentou fala de Carlos Fávaro, que nesta semana comparou ocupações do MST a atos de bolsonaristas, que depredaram o Palácio do Planalto e as sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em Brasília em 8 de janeiro. Para ele, o ministro é “um homem sério, que quer uma agricultura para resolver os problemas do povo”, e disse acreditar que o ministério está “em boas mãos”.Mas que a comparação do ministro é fruto de uma retórica comum entre agentes políticos.

“Quem faz invasão no país é o agronegócio, que invade terra indígena, terra quilombola, terra pública. Isso é invasão. Apropriação de bens em proveito próprio. Ocupação é uma mobilização social dos camponeses, com suas famílias, para pressionar o governo a aplicar a Constituição. E eles misturam tudo. Na próxima vez que me encontrar com o Fávaro, vou explicar para ele”, concluiu.

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Redação: Cida de Oliveira