Virada

Governo caminha para ter maioria na CPMI do 8 de Janeiro e apavora o bolsonarismo

Randolfe Rodrigues muda de bloco e base de Lula estima que terá 20 dos 32 votos. Bolsonaristas mostram desespero por ter insistido em comissão

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Lance de Randolfe mudou o tabuleiro e garante maior presença governista na CPMI

São Paulo – Depois de pressionar pela criação da CPMI do 8 de Janeiro, o que se deu nesta quarta (26), o bolsonarismo começa a se dar conta de que “entrou numa fria”, dizem fontes de Brasília à RBA. A oposição argumentava, inclusive nas redes sociais, que o governo estava com medo das apurações. Criada a comissão, o Planalto está próximo de ter a maioria que lhe permitirá ter a relatoria e a presidência do colegiado.

Do ponto de vista de estratégia no tabuleiro, a base governista fez um lance inesperado ontem: o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso, mudou de bloco parlamentar no Senado e, assim, o grupo onde está PT aumenta a presença na CPMI e o PL bolsonarista perde uma vaga (cai de três para duas).

Randolfe deixou o bloco Democracia (PSDB, Podemos, MDB, União e PDT), e foi para o Resistência Democrática (com PT, PSB e PSD). Com isso, os governistas terão seis vagas de cada bloco na CPMI. Como ambos formam a base do governo no Senado, essa configuração garantirá 12 senadores do total de 16.

A comissão mista é composta por 16 deputados e 16 senadores. A indicação dos aliados de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, deve definir os membros daquela Casa. Os líderes do governo negociam e fazem contas.

O peso de Lira

Pelos cálculos, Lira não assumiria o enorme risco de fazer a balança pender para o bolsonarismo, mas dificilmente aceitará não ter um aliado como relator ou na presidência. A base de Lula estima que terá 20 dos 32 votos no total, o que se concretizaria se a composição dos deputados ficar em 8 a 8. Então, o governo teria 12 senadores e 8 deputados.

A maioria da comissão é fundamental, pois elege o relator e o presidente. Em 2021, o governo de Jair Bolsonaro perdeu os dois postos para a oposição na CPI da Covid, que pautou os trabalhos e encurralou os bolsonaristas.

Há duas semanas, Lira comandou negociação que fechou a formação do maior bloco na Câmara, com 173 deputados, e por isso será decisivo na composição da CPMI do lado da Câmara. O bloco reúne PP, União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota e a federação Cidadania-PSDB.

Sentiu o baque

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), sentiu o baque. Com a possibilidade de se concretizar o pesadelo de o governo ter o comando e o controle da comissão, ele já protestou nesta quarta.

“O que nós queremos é isenção, é transparência e se o presidente da comissão for alguém ligado ao governo, é razoável que o relator seja da oposição e vice-versa”, argumentou. Segundo ele, a atitude do governo é “antidemocrática, totalitária e arrogante”. Com a intenção de atrasar a instalação da CPMI, Marinho entrou hoje com questão de ordem contestando o movimento de Randolfe.

Sendo minoria, é esperado que os aliados de Jair Bolsonaro façam da CPMI do 8 de Janeiro um palco de baixarias e truculência. O bolsonarismo deve indicar à comissão nomes como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além da senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Na semana passada, o deputado Marcon (PT-RS) questionou a veracidade da suposta facada sofrida por Bolsonaro em 2018. Acabou ameaçado por Eduardo, o filho 03. “Te enfio a mão na cara e perco o mandato. Perco o mandato, mas com dignidade”, vociferou o filho do ex-presidente entre palavrões.