Mobilização presencial

Chomsky sobre campanha de Lula no segundo turno: ‘Organizar as bases e sair às ruas’

Intelectual diz à BBC que apoio de artistas e intelectuais é insuficiente para ganhar eleição. Por outro lado, base mobilizada serve de antídoto às mentiras bolsonaristas

Mauro Calove
Mauro Calove
Entusiasta da candidatura petista, Chomsky e sua mulher visitaram Lula em Curitiba, quando estava preso injustamente

São Paulo – O filósofo e linguista Noam Chomsky, em entrevista à BBC Brasil publicada nesta quarta-feira (5), disse que para vencer o segundo turno das eleições e conseguir governar num eventual terceiro mandato do ex-presidente Lula, o PT precisa se organizar nas bases e ocupar as ruas. Apesar de dizer para que não levem “muito a sério” suas observações sobre o cenário eleitoral brasileiro, o intelectual afirma que acompanha a disputa “com grande interesse”. E disse que considera o campo democrático não dá uma resposta equivalente à capacidade de Jair Bolsonaro e seus apoiadores ocuparem as ruas.

De acordo com Chomsky, o reforço da mobilização das bases serviria como antídoto às fake news propagadas pelo campo bolsonarista. Além disso, ele afirma que grande parte da população brasileira desconhece as conquistas sociais dos governos petistas.

“Não basta ter artistas do seu lado, ou ter acadêmicos, é preciso sair às ruas e se organizar para realmente ter forças populares reais ali”, disse Chomsky. “A gente conversa com as pessoas, e as pessoas não sabem que se beneficiaram dos programas que o Lula criou. Não sabem que ele foi o responsável por seus filhos poderem entrar na faculdade, por terem conseguido abrir um pequeno negócio. É Deus, é sorte, ou algo assim. Não o PT”, acrescentou.

Nesse sentido, o filósofo comparou o PT ao Partido Democrata dos Estados Unidos. Segundo ele, ambos teriam se afastado do trabalhador e da população mais pobre, “abraçando” agendas neoliberais e perdendo a “conexão histórica com seu eleitorado”. “Se você tivesse um partido político ou qualquer organização geral defendendo os trabalhadores e os pobres, eles poderiam reagir a isso (fake news) na base, via organização local”.

Distorções nas pesquisas

Outra comparação que Chomsky faz entre o processo eleitoral brasileiro e a realidade política norte-americana foi em relação às pesquisas que antecederam o primeiro turno, e que apresentaram divergências em relação aos resultados das urnas. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, onde os principais institutos subestimaram o apoio eleitoral ao então candidato Donald Trump – do Partido Republicano –, os pesquisadores brasileiros não captaram a força real do bolsonarismo.

“Isso é exatamente o que acontece com Trump. As pesquisas subestimam o apoio popular a ele e aos que ele apoia. E suspeito que o motivo seja o mesmo. A parte da população que está inclinada a votar em Trump ou Bolsonaro provavelmente é tão anti-elite que não confia nos pesquisadores, acha que eles fazem parte dessa conspiração de esquerda que está tentando destruir a família, a igreja. Eles simplesmente não respondem. Eu não ficaria surpreso se o mesmo estivesse acontecendo aqui”.

Confira aqui a entrevista completa da BBC Brasil.

Reação

O PT parece ter entendido o recado. De acordo com a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, o partido deve publicar ainda hoje um documento com orientações sobre como a sua base de apoiadores, partidos e militantes deve agir na campanha durante o segundo turno.

A orientação do partido é que a militância deve realizar “mutirões porta a porta” em bairros periféricos, com o objetivo de conquistar novos eleitores, priorizando a eleição de Lula. “Não podemos perder tempo conversando entre nós”, diz o material. Lula utilizou a mesma frase durante pronunciamento na última segunda-feira (3). O PT pretende intensificar a mobilização principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

“São quatro finais de semana até o dia 30 nos quais devemos realizar mutirões porta a porta nos bairros periféricos, panfletagens nos locais de grande circulação, caminhadas e carreatas com a presença de lideranças políticas e personalidades”, diz o texto.