Crescimento histórico

Nas últimas cinco eleições, PT sempre obteve ao menos 40% dos votos em disputa no segundo turno

Para sair vencedor no próximo dia 30 de outubro, Lula não poderá perder os votos já obtidos no 1º turno, além de conquistar mais 19% dos eleitores de outros candidatos

Alan Santos/PR e Divulgação/PT
Alan Santos/PR e Divulgação/PT
"Virada em segundo turno é raríssimo, é quase um cometa halley passando. Bolsonaro não vai virar. (...) Agora, é preciso evidentemente fazer ajustes na campanha", defende Flávio Dino

São Paulo – Quanto o PT cresce no segundo turno das eleições presidenciais historicamente? Dados apurados pelo jornalista Fernando Torres, do Valor Econômico, mostram que nas cinco vezes anteriores que o partido chegou à segunda etapa do pleito, os trabalhadores obtiveram pelo menos 40% dos votos que estavam em disputa, além dos votos conquistados no primeiro turno. 

O resultado histórico é superior ao que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa conquistar para sair vencedor no próximo dia 30. Nesta eleição, que é a sexta vez consecutiva que o PT vai ao segundo turno, Lula precisa angariar o voto de 19% dos eleitores que escolheram, ontem (2), um candidato diferente dele e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista também não pode perder os votos já obtidos que o colocaram na liderança no primeiro turno, perto de derrotar Bolsonaro, que pode também protagonizar um feito histórico, o único candidato à reeleição não reeleito. 

A análise do Valor Econômico indica que nesta eleição de 2022, a soma dos candidatos da chamada “terceira via” que precisam ser disputados é de apenas 8,4% do total. Trata-se do menor índice das últimas eleições. Em 2002, por exemplo, eles representavam 30,4% dos votos válidos. O levantamento mostra que dentro do percentual dos demais candidatos que era preciso abocanhar, o PT, na primeira eleição que saiu vencedor, obteve 48,8% dos votos em disputa em 2002. 

Líder no 1º e no 2º turno

Em 2006, quando Lula concorreu e derrotou seu atual vice-presidente, Geraldo Alckmin, ele passou de 48,6% para 60,8% dos votos no segundo turno. Enquanto o então candidato do PSDB perdeu votos na segunda volta, um resultado fora da curva. Já em 2010, com Dilma Rousseff, a presidenta conquistou 44,6%, assim como em 2014, com 40,4%. No segundo turno de 2018, dessa vez com Fernando Haddad, o PT conquistou 63,1%. Esse resultado do petista também confirma que, com exceção de Alckmin, todos os candidatos que passaram em segundo lugar crescem mais proporcionalmente no segundo turno. Mas não o suficiente para suplantar quem passa em primeiro. 

Nas últimas cinco eleições presidenciais quem ganhou o primeiro turno também acabou levando no segundo, destaca o levantamento. Como a fatia de votos em disputa em 2022 é bastante reduzida, de apenas 8,4%, ou 9,9 milhões de votos, tudo indica, segundo o jornalista, que o segundo turno terá o resultado bastante apertado. Algo semelhante ao de 2014, quando Dilma venceu Aécio Neves (PSDB). Se repetir o histórico de obter pelo menos 40% dos votos em disputa Lula venceria o pleito com 51,8% dos votos. Quase idêntico ao da ex-presidenta que derrotou o tucano com 51,6%.

Bolsonaro, por sua vez, só conseguirá ser reeleito se conquistar 81% dos votos dados aos demais candidatos ou avançar sobre o eleitorado de Lula. Nenhum presidente que concorreu à reeleição, aprovada em 1997 pelo então chefe do Executivo Fernando Henrique Cardoso (FHC), perdeu o pleito. A mística conta a favor do atual mandatário e coloca outra tarefa para Lula que, por outro lado, tem como precedente a não reeleição de Donald Trump, por exemplo, nos Estados Unidos. Ou, a nível nacional, o fato de que quem lidera o primeiro turno também ter mantido a vitória no segundo. 

Críticas à autoflagelação da esquerda

Diante dessa possibilidade, o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), eleito senador no domingo, condenou o que chamou de “autoflagelação de parte da esquerda” em entrevista à TV247. “Desde ontem à noite (domingo) está esse negócio, ‘onde erramos, o que foi'”. 

“Eu queria chamar atenção para aspectos imensamente positivos. Primeiro de onde nós viemos, de um patamar muito baixo. Há três anos se alguém dissesse que o Lula recuperaria seus direitos políticos, ia disputar a eleição e quase vencer no primeiro turno, ninguém acreditaria. É preciso ter assertividade no que se refere a essas conquistas. Pela primeira vez um incumbente, o que está na cadeira, não venceu a eleição. E vejam, a virada em segundo turno é raríssima, é quase um cometa halley passando. Então, dizer que o Bolsonaro vai virar, não, ele não vai virar. Nós vamos fazer esse percentual e ganhar a eleição”, destacou Flávio Dino. 

O senador récem-eleito ponderou, no entanto, a necessidade da campanha do PT de fazer “pequenos ajustes”. “Principalmente no que se refere a tangibilização das nossas ideias, elas têm que aderir mais fortemente na classe trabalhadora, o ‘povão’ que nos empurrou para as vitórias não só no Nordeste, mas no país todo”, defendeu. 

“Vamos fazer o debate de legados, porque isso é amplamente favorável, comparar Lula e Bolsonaro num debate sem laranja, falso padre, fraude e artimanha, debate frente à frente. E vamos falar de futuro. Temos que dizer ‘ vamos fazer isso aqui’. (…) ‘Vamos fazer 4 mil restaurantes populares, as pessoas vão comer, o salário mínimo vai subir acima da inflação todos os anos. Coisas assim que eu acho que temos que frisar para ganhar a eleição”, concluiu Flávio Dino. 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima