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Professora da UFRJ acredita em aliança de Simone Tebet com Lula para o segundo turno

“Simone Tebet não sinalizou para o bolsonarismo, como fez Ciro Gomes, e sinalizou para um grupo que não se entende progressista, mas não quer ser de direita”, afirma a cientista política Mayra Goulart

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"Simone Tebet não sinalizou para o bolsonarismo, como fez Ciro Gomes", avalia professora da UFRJ

São Paulo – Com capital político de 5 milhões de votos (4,16% dos votos válidos) nesse primeiro turno das eleições à presidência, a candidata Simone Tebet (MDB) será uma personagem fundamental para a disputa de segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ao fim do processo eleitoral nesse domingo (2), ela se pronunciou pedindo que os presidentes dos partidos que a apoiam se manifestem em 48 horas, para tomar posição em relação ao segundo turno. Depois, destacou: “Tomem logo a decisão, porque a minha está tomada. Eu tenho lado e vou me pronunciar no momento certo”.

Segundo a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, um conceito fundamental para entender o que está em disputa nessa eleição é a oposição entre sociedade patriarcal, representada pela candidatura de Bolsonaro, e o que ela chama de legado da modernidade, que está na base da campanha de Lula.

“Simone Tebet não sinalizou para o bolsonarismo, como fez Ciro Gomes, e sinalizou para um grupo que não se entende progressista, mas não quer ser de direita, não quer subscrever a sociedade patriarcal”, afirma Mayra em entrevista a Glauco Faria na edição desta segunda-feira (3) do jornal da Rádio Brasil Atual.

Ministério?

“Simone Tebet configurou esse campo e a questão é para quem ela vai entregar esse campo”, afirma Mayra. “E eu espero que ela entregue para o campo progressista e tudo indica que vai ser. Por isso eu acredito que eventualmente no movimento de trazer a Simone para um possível governo Lula, seria ideal conceder para ela o ministério da Damares Alves”, diz, em referência ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

“O ministério da Damares construiu uma engenharia institucional de penetração no tecido social, em articulação com as prefeituras, formando espaços de rediscussão das famílias para permanecer na concepção dessa família patriarcal. E a gente pode manter essa estrutura e começar a mudar sem ir com o pé na porta, sem ruptura, sem achar que a gente vai ensinar para as classes populares o que é ser uma mulher independente”, avalia Mayra. 

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A professora de ciência política lembra que no debate na TV Globo, na quinta-feira (29), Simone Tebet em nenhum momento deixou de dizer que era feminista. “Ela colocou essa discussão em um campo que normalmente rechaça a discussão do feminismo”, avalia a professora, em relação ao eleitorado da candidata. 

Mayra destaca que as pesquisas sobre mulher e feminismo mostram que muitas mulheres têm algumas características conservadoras, e que respeitar essa diversidade de opiniões é essencial está discutir o modelo patriarcal de família. “A gente precisa discutir no plano valorativo, no plano dos afetos, porque é nesse plano que o Bolsonaro está avançando”, afirma.

Confira a entrevista