Paz e bem

Lula encontra franciscanos e firma ‘questão de honra’ por educação dos mais pobres e defesa do meio ambiente

Ex-presidente diz que não usará religião para fazer política. ‘Eu gosto de professar a minha fé sem fazer ‘carnaval'”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula disse que cogitou ir ao convento franciscano, mas prefere não misturar religião e política

São Paulo – O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi abençoado por frades franciscanos nesta terça-feira (4) – dia de São Francisco de Assis, o santo dos pobres e dos animais. O líder religioso, frei Davi, que também é diretor executivo da ONG Educafro, manifestou desejo de que o Brasil volte a ser governado por um representante que tenha “sintonia franciscana” com a ecologia. “Não podemos fazer esse mal com o planeta Terra. O planeta Terra precisa do amor da Amazônia”.

Além disso, ele cobrou de Lula compromisso com o aprofundamento das políticas de inclusão de negros e pobres na educação. Em resposta, o ex-presidente afirmou que as políticas de inclusão na educação são “uma questão de honra” e “prioridade zero”, caso seja eleito para um novo mandato presidencial. “Nós vamos voltar para colocar mais gente pobre para estudar”, disse.

Frei Davi relatou a Lula que 30% dos negros que ingressaram nas universidades públicas, por meio da Lei de Cotas, estão atualmente abandonando os estudos por falta de recursos. Nesse sentido, ele reivindicou a implementação de políticas – como bolsa moradia e bolsa alimentação – que garantam a permanência dos mais pobres nas universidades. Do mesmo modo, sugeriu a extensão dessas políticas também aos alunos do Prouni, com o mesmo objetivo de reduzir a evasão dos mais pobres.

O religioso também denunciou casos de corrupção que nos últimos anos vêm envolvendo a Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social na Área de Educação (Cebas). Escolas privadas que recebem investimentos públicos para incluir alunos pobres estariam, segundo ele, utilizando esses recursos para outras finalidades, todas suspeitas. Por fim, frei Davi sugeriu a criação de um “Prouninho”, voltado à inclusão dos mais pobres nos ensinos fundamental e médio.

Paz e bem

Antes de receber a benção dos franciscanos, frei Paulo lembrou que a data do aniversário de Lula, em 27 de outubro, coincide com o Dia Mundial de Oração pela Paz. “E São Francisco e os franciscanos têm a ousadia de encher o mundo de paz e bem”.

O ex-presidente disse que chegou a pensar em ir hoje ao convento de São Francisco, em São Paulo. Mas acabou recuando da ideia, para não ser acusado de estar usando a religião para fazer política. “Gosto de professar a minha fé na minha intimidade, sem fazer ‘carnaval'”, relatou, numa referência indireta ao presidente Jair Bolsonaro. “Para mim, a fé é uma coisa muito sagrada. Minha espiritualidade eu levo muito a sério. E faço as coisas com muita verdade dentro de mim”.

Desse modo, frei Davi afirmou que Lula é um “exemplo” de cristão. “Nunca no Brasil tivemos um ser humano mais cristão do que você. Por isso, tenho certeza que se tem alguém que pode se dizer cristão e valorizar os pobres e a diversidade é você”.

Igreja ontem e hoje

O frei lembrou que conheceu Lula através de Dom Cláudio Humes e Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispos de São Paulo. O candidato lembrou da participação de Humes durante as greves do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no final da década de 1970. Da mesma maneira, ressaltou a participação de Arns na luta contra a ditadura. “Dom Paulo é o único brasileiro que deveria ter recebido o prêmio Nobel da paz. É impensável saber o que significou a luta de Dom Paulo em defesa da democracia, da liberdade, em defesa do povo trabalhador, do povo da periferia”, afirmou.

Além disso, Lula citou o papa Francisco como um exemplo de “extraordinária coragem”. E destacou o livro Economia de Francisco e Clara (Ed. Paulus) que, segundo ele, mostra que a Igreja Católica “está pensando o mundo hoje com muito mais avanço, muito mais destemor, do que há algum tempo atrás”.

Apoios

Ao final do encontro com os religiosos franciscanos, o Lula respondeu brevemente a questionamentos dos jornalistas e comentou sobre o apoio do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, a Jair Bolsonaro (PL) e ao candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “Se ele decidiu apoiar o Bolsonaro, é uma decisão livre e soberana dele. Nós vamos ganhar do Bolsonaro, mesmo com o apoio dele. Estamos conversando com outros partidos políticos. Hoje o PDT declarou apoio à nossa candidatura“.

Lula disse ainda que já conversou com Simone Tebet (MDB), mas disse que, antes de tentar conversar com as pessoas, tem tentado conversar com os partidos políticos. Voltou a dizer que faltou apenas um “tiquinho” para vencer as eleições no primeiro turno. Afirmou que as urnas “provaram” que 60% da sociedade brasileira rejeita Bolsonaro nas urnas. E disse acreditar que o segundo turno é uma oportunidade de aprofundar o debate com a sociedade brasileira.