Cautela

Advogado afirma que Dirceu está pronto para qualquer situação

José Luís de Oliveira Lima considera que Celso de Mello saberá suportar pressão em torno do julgamento de recursos do mensalão, empatado em cinco a cinco, e evita opiniões

Arquivo Agência Brasil

Oliveira Lima diz que não vai opinar sobre os próximos passos até que o STF defina o julgamento

São Paulo – O advogado do ex-ministro José Dirceu, José Luís de Oliveira Lima, evitou hoje (12) antecipar comentários sobre a eventual rejeição, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dos embargos infringentes apresentados pela defesa dos réus da Ação Penal 470, o mensalão. Quando convocou entrevista coletiva para o final da tarde desta quinta-feira em seu escritório, na região central de São Paulo, Oliveira Lima transmitiu a impressão de que faria declarações fortes.

Mas o empate em cinco a cinco no plenário da Corte, com situação em aberto, talvez tenha esfriado os ânimos do advogado, que antecipou aos repórteres que seria uma conversa “absolutamente sem graça”, feita em meio à expectativa sobre o voto de minerva do decano Celso de Mello. Na quarta-feira da próxima semana o ministro vai manifestar sua posição e, caso acolha os embargos, na prática abre-se a possibilidade de novo julgamento para onze réus quanto ao crime de formação de quadrilha – o ex-ministro entre eles.

“Dirceu é um homem preparado para qualquer situação”, afirmou Oliveira Lima, quando questionado sobre qual seria a reação do petista frente a uma decisão de rejeitar os recursos, o que, na prática, significa a ratificação da sentença de dez anos e dez meses de prisão por corrupção ativa e associação criminosa, crimes que refletem a visão do relator do caso no STF, Joaquim Barbosa, para quem o então chefe da Casa Civil é o “cabeça” do suposto esquema de desvio de verbas públicas ocorrido tornado público em 2005.

Perguntado sobre que atitudes tomará caso veja o cliente condenado, Oliveira Lima novamente adotou tom de cautela. “O julgamento está em aberto. Há uma divisão muito clara do tribunal. É uma discussão rica para quem opera o Direito. Temos que esperar o decano Celso de Mello proferir seu voto”, afirmou. “Advogado não é um matemático. O advogado só contesta uma decisão por meio de recursos.”

Hoje, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello proferiram longos votos contra o acolhimento dos embargos. Após expor sua posição, Marco Aurélio passou a afirmar que pesará sobre os ombros de Celso de Mello uma grande responsabilidade e que aceitar a realização de um novo julgamento provocaria danos à imagem do STF. Mendes acrescentou que a opinião pública espera que a Corte cumpra sua oportunidade de dar uma resposta, mostrando que não acolhe privilégios e que condena a corrupção.

O bate-papo irritou o ministro Luís Roberto Barroso, que cobrou que os colegas votem pensando na Constituição. “Gostaria de dizer, em defesa do meu ponto de vista e sem demérito para seu ponto de vista, que eu, em minha vida, faço o que acho certo, independente da repercussão. Não sou um juiz que me considero pautado pela repercussão do que vou dizer. Muito menos o que vai dizer o jornal do dia seguinte. Sou um juiz constitucional.”

Com os longos votos de Marco Aurélio e Mendes, não houve tempo para a apreciação da posição de Celso de Mello. O ministro havia dado a entender nas últimas sessões ser favorável ao acolhimento dos embargos, mas agora terá alguns dias de pressão até a retomada do caso. Para Oliveira Lima, isso não será um problema: “Um operador de Direito que chega a ministro do Supremo Tribunal Federal tem uma bagagem jurídica muito forte e uma bagagem emocional muito forte. Tenho absoluta convicção de que o ministro Celso de Mello é imune a qualquer tipo de pressão e vai votar de acordo com sua consciência. Disso não tenho a menor dúvida”.

Até agora, além de Marco Aurélio e de Mendes, votaram contra os embargos Cármen Lúcia, Luiz Fux e Joaquim Barbosa. Posicionaram-se a favor os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.