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Após vídeo de reunião ministerial, Weintraub e Salles sentem cargos ameaçados

“Perplexo”, Marco Aurélio Mello pede saída do ministro da Educação, por ataque verbal ao STF. Petição popular pede saída do titular do Meio Ambiente, que quer “passar a boiada” nas legislação

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Wintraub e Salles. Depois de revelado o teor da reunião ministerial de 22 de abril, o primeiro está prestes a ser demitido, enquanto o segundo passou o dia dando explicações e vendo surgir novas iniciativas de tirá-lo do Meio Ambiente

São Paulo – Pelas falas agressivas aos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), proferidas na reunião ministerial de 22 de abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, poderá ser demitido nos próximos dias pelo presidente Jair Bolsonaro, além de responder a um processo criminal por injúria. Na reunião – cuja gravação teve o sigilo quebrado na sexta-feira (21) e foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação – Weintraub chamou os ministros do STF de “vagabundos” e disse que deveriam ser presos. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, disse ele.

O ministro do STF Marco Aurélio Mello disse ontem (23) que ficou “perplexo” com a quantidade de palavrões, ameaças e ataques a instituições registradas no vídeo da reunião do primeiro escalão do governo. “Tudo lamentável, ante a falta de urbanidade. Fiquei perplexo. O povo não quer ‘circo’, quer saúde, emprego e educação. Fosse o presidente (da República), teria um gesto de temperança. Instaria o Ministro da Educação a ‘pedir o boné'”, disse Marco Aurélio à reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, sugerindo a Bolsonaro a demissão de Weintraub.

Já o ministro Celso de Mello, dacano do STF, viu possível crime de injúria nas declarações e xingamentos de Weintraub. Segundo afirmou ao portal G1, o ministro da Educação “põe em evidência, além do seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra”.

Celso de Mello determinou que todos os ministros do Supremo sejam oficiados para que, caso queiram, adotem as medidas cabíveis. “Constatei, casualmente, a ocorrência de aparente prática criminosa, que teria sido cometida pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, no curso da reunião ministerial realizada em 22/04/2020, no Palácio do Planalto, assim se pronunciou em relação aos ministros do Supremo Tribunal Federal”, escreveu.

Após a divulgação do vídeo, interlocutores do governo analisam como “delicada” a situação do ministro. Em entrevista ao canal de TV por assinatura Globonews, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu a demissão de Weintraub, ao ser questionado se demitiria o ministro caso fosse presidente da República: “Sim, demitiria”.

Bezerra revelou àquela TV ter comentado com Bolsonaro que achou o conteúdo das declarações de Weintraub o pior momento da reunião e totalmente inapropriado.

Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre a substituição do ministro. No Planalto, aliados do presidente afirmam não haver dúvidas de que algum dos magistrados vai acionar Weintraub judicialmente, devido à gravidade das suas agressões à Suprema Corte.

Salles, o “infralegal”

Outro ministro que ganhou “destaque” por sua participação na reunião ministerial de 22 de abril foi Ricardo Salles, do Meio Ambiente, que defendeu que o governo deve “aproveitar a tranquilidade” – em meio à pandemia do coronavírus – para “ir passando a boiada e simplificando normas”, com o intuito de modificar a legislação ambiental.

Ele ressaltou, como mostra o vídeo, que é hora da edição de medidas de desregulamentação e simplificação, uma vez que a imprensa está, neste momento, concentrada no combate à covid-19. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas.”

“A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro nessas viagens que se referiu o Onyx [Lorenzoni] certamente cobrou dele, cobrou do Paulo [Guedes]”, afirmou Salles na reunião.

Neste sábado, o titular do Ambiente tentou justificar sua falar e disse que o comentário era destinado a todos os ministros presentes no sentido de diminuir normas que criam “burocracia”, “retrabalho” e “ineficiência”.

Além de provocar grande repercussão negativa entre ambientalistas e entre governos de todo o mundo, corre no Brasil uma petição online que pretende a saída de Salles. “Para que se cumpra a condenação pela Terceira Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Por improbidade administrativa com suspensão de direitos políticos”, diz o documento (link abaixo).

O ministro foi condenado pela justiça de São Paulo por falsear dados ambientais em favorecimento a empresários – quando foi secretário do Meio Ambiente do então governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo os autores da petição, Salles prossegue sua prática anti-ambientalista, “além de, por desmobilizar a fiscalização do IBAMA ser condizente com o genocídio dos povos indígenas.”

Clique aqui para assinar a petição.


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