Eleições presidenciais 

Turquia realiza segundo turno inédito. Há 20 anos no poder, Erdogan não alcança maioria 

O atual presidente, o conservador islâmico Recep Tayyip Erdogan, ficou abaixo dos 50% dos votos necessários para vencer na primeira rodada. E vai enfrentar, no dia 28 de maio, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu

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Com 99,87% das urnas apuradas até a manhã desta segunda-feira (15), o atual presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, terminou a disputa em primeiro lugar, com 49,51% dos votos

São Paulo – Pela primeira vez em sua história, as eleições presidenciais na Turquia deverão ser decididas em um segundo turno, no dia 28 de maio, de acordo com o Conselho Superior Eleitoral da Turquia. Com 99,87% das urnas apuradas até a manhã desta segunda-feira (15), o atual presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, terminou a disputa em primeiro lugar, com 49,51% dos votos. Enquanto seu principal adversário, Kemal Kiliçdaroglu, ficou em segundo, com 44,96%. 

Apesar da liderança, o resultado é insuficiente para garantir a reeleição no país, que demanda 50% dos votos para dar a vitória na primeira rodada. Há 20 anos no poder, o conservador islâmico do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) vai enfrentar a disputa inédita em segundo turno contra um social-democrata, líder do Partido Republicano do Povo (CHP) e de uma coalizão de seis partidos, considerado o oponente mais forte que Erdogan já enfrentou. 

A tendência é que o terceiro candidato mais votado, o nacionalista Sinan Ogan, que recebeu 5,2%, também seja decisivo no próximo pleito, caso decida apoiar um dos candidatos. 

Referendo

O resultado eleitoral é visto como um referendo sobre os 20 anos do governo de Erdogan, marcado por uma guinada autoritária e conservadora religiosa no país de 85 milhões de habitantes. No poder desde 2003, Erdogan governa um país dividido e de maioria mulçumana. Em 2017, ele liderou a troca do regime político de parlamentarismo para presidencialismo após vencer uma tentativa de golpe no país, em 2016. Desde então, o presidente foi reeleito sucessivamente. 

Há, no entanto, uma forte oposição organizada em torno de Kiliçdaroglu, que conseguiu unir da direita nacional à centro-esquerda liberal contra um novo mandato de Erdogan. O líder do CHP também contou com apoio do partido pró-curdo HDP, considerada a terceira maior força política da Turquia. “Sentimos falta da democracia”, declarou o presidenciável, de 74 anos, neste domingo (14), ao votar. “Vocês vão ver. A primavera vai voltar para este, se Deus quiser, e vai durar para sempre”, acrescentou, em referência aos seus slogans de campanha.

A Turquia, atualmente, é marcada um cenário econômico instável, com desvalorização da moeda local (lira turca) e uma inflação acima da casa dos 80%. O país também enfrenta as consequências do terremoto, em fevereiro deste ano, que matou mais de 50 mil pessoas e desgastou ainda mais a imagem do atual presidente. O governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência a abalos sísmicos, constantes no país. 

Presença eleitoral

Erdogan também é conhecido pela aliança com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ele não aderiu às sanções contra Putin, por conta da guerra na Ucrânia. Se Kiliçdaroglu sair vitorioso, porém, o cenário de apoio deve mudar. O opositor afirmou que tem interesse em fortalecer os laços da Turquia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e que defenderá uma vaga na União Europeia. 

Segundo o Conselho Eleitoral turco, essa foi uma das eleições mais importantes dos últimos 100 anos. Dos 85 milhões de habitantes, 64 milhões estão aptas a votar. O comparecimento na urna chegou a 88,8%. 

(*) Com informações da DW Brasil e do Brasil de Fato