Decisão

Referendo para Erdogan, Turquia realiza neste domingo segundo turno das eleições presidenciais

Líder do Partido Republicano do Povo, Kemal Kilicdaroglu, é o primeiro a ameaçar a permanência de Recep Tayyip Erdogan, presidente conservador há 20 anos no poder na Turquia. Religião e política externa podem ditar resultado eleitoral

Malaysia Department of Information
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Agenda conservadora vinculada à identidade política da maioria da população dá vantagem à reeleição do atual presidente

São Paulo – Após um primeiro turno acirrado, a população da Turquia volta às urnas neste domingo (28) para decidir se concederá mais cinco no poder ao atual presidente, Recep Tayyip Erdogan. Ou se, após 20 anos sem alternância, passará o comando do país para o líder do Partido Republicano (CHP, na sigla em turco), Kemal Kiliçdaroglu.

Na primeira volta, há duas semanas, a maioria dos eleitores mostrou-se “fiel” ao conservador islâmico do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que obteve desempenho eleitoral melhor do que o esperado. Erdogan terminou a disputa em primeiro, com 49,5% dos votos. Seu adversário, que conta com o apoio de uma coalizão de seis partidos, da direita nacional à centro-esquerda liberal, ficou em segundo, com 44,9%. Apesar da vantagem, nada está decidido no pleito turco.

Por um lado, a crise econômica e a inflação fora de controle no país pesam contra o atual presidente. Erdogan enfrenta a desvalorização da moeda local (lira turca) e uma inflação acima da casa dos 80%. A Turquia também segue sob as consequências do terremoto, em fevereiro, que matou mais de 50 mil pessoas e acentuou o desgaste da imagem do presidente. O governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência a abalos sísmicos, constantes no país.

Peso da religião

No entanto, a agenda conservadora vinculada à identidade política da maioria da população dá vantagem à reeleição do atual presidente. No poder desde 2003, Erdogan governa um país dividido e de maioria muçulmana. Analistas afirmam ao jornal O Globo que a população deposita seu voto tendo como prioridades a religião e a identidade nacional turca. A avaliação é que o líder conservador marcou um processo no país que fundiu o nacionalismo e o Islã para combater o marxismo e minorias, consideradas uma “ameaça à segurança”.

Kiliçdaroglu, por sua vez, embora tenha reunido forte oposição com diferentes forças políticas, também é rejeitado por ser membro da minoria étnica muçulmana Alevi. Contudo, ele conta com o apoio do partido pró-curso HDP, considerada a terceira maior força política da Turquia, que representa 10% da população local. O voto curdo também vem sendo considerado relevante para decidir a disputa neste domingo e deve beneficiar o adversário de Erdogan, apesar de sua mudança de discurso contra imigrantes, adotado neste segundo turno.

Política externa

Questões de políticas externa também estão em jogo. O atual mandatário turco também é conhecido pela aliança com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ele não aderiu às sanções contra Putin, por causa da guerra na Ucrânia. Mas, se Kiliçdaroglu sair vitorioso, o cenário deve mudar. O líder da CHP já afirmou que tem interesse em fortalecer os laços da Turquia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e que defenderá uma vaga na União Europeia.

Essa eleição presidencial vem sendo considerada a mais importante dos últimos 100 anos. Dos 85 milhões de habitantes, 64 milhões estão aptos a votar. Ainda no primeiro turno, o comparecimento na urna bateu recorde e chegou a 88,8% de participação.