busca e apreensão

Situação de Trump se complica com descoberta de documentos secretos na sua mansão

Efeitos do cerco ao ex-chefe de governo dos EUA podem respingar no presidente brasileiro e em seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro

Joyce N. Boghosian/Divulgação - Casa Branca
Joyce N. Boghosian/Divulgação - Casa Branca
Admirador de Trump, Eduardo Bolsonaro encontrou o presidente americano na Casa Branca em 2019

São Paulo – A situação do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump pode se complicar muito nos próximos dias e semanas e sobrar respingos para a família Bolsonaro. O FBI – a Polícia Federal norte-americana – apreendeu documentos “ultrassecretos” nas buscas realizadas na mansão do republicano na última semana, na Flórida. Documentos judiciais divulgados nesta sexta-feira (12) indicam que Trump tinha com ele documentos confidenciais e secretos, o que é crime e viola uma lei de espionagem do país.

Entre os documentos divulgados pela Justiça da Flórida, segundo a Rádio França Internacional (RFI), está o mandado que autorizava a busca e apreensão na mansão e um inventário das provas apreendidas pelos agentes do FBI. O termo “ultrassecretos” marcava alguns desses papéis. Eles não deveriam estar com o ex-presidente, mas “disponíveis apenas em instalações especiais do governo”, segundo o mandado federal que autorizou as buscas.

Trump alega ser vítima de uma operação política “sem precedentes”, e diz que a perseguição é feita por “democratas radicais de esquerda”. O jornal The Washington Post levanta a possibilidade de que alguns documentos possam se relacionar com o arsenal nuclear dos EUA. Mais uma vez, Trump apelou para alegação de conspiração e afirmou que “a questão das armas nucleares é uma mentira”. O FBI poderia ter “plantado informações”, acrescentou.

O ex-presidente republicano é investigado por supostos crimes de espionagem, obstrução de Justiça e destruição de documentos federais, que eram as justificativas do mandado de busca executado pelo FBI.

A investida contra o ex-presidente, admitida publicamente pelo Departamento de Justiça do governo Joe Biden, elevou a tensão política no país. O clima pode ser o motivo da tentativa de invasão de prédio do FBI em Cincinnati (Ohio) por um homem armado nesta quinta-feira (11). Ele foi morto por agentes após perseguição. O atirador – identificado como Ricky Shiffer, de 42 anos – era um fanático apoiador de Trump nas redes sociais.

Após três dias tensos de silêncio, na mesma quinta-feira, Merrick Garland, o poderoso secretário do Departamento de Justiça (DoJ), disse que aprovou pessoalmente a operação do FBI, subordinado a sua pasta. “Não vou ficar calado quando a integridade (dos agentes) é atacada injustamente”, declarou. “Os homens e mulheres do FBI e do Departamento de Justiça são servidores públicos e patriotas dedicados”, disse ainda.

Trump e os Bolsonaro

Os efeitos do cerco da Justiça, do FBI e do governo Joe Biden a Trump podem respingar no presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Não apenas pela ligação política e influência do ex-presidente dos EUA na família do mandatário do Brasil.

No final de julho, o deputado americano Jamie Raskin revelou a representantes de entidades brasileiras que deve citar o Brasil no trabalho do comitê especial da Câmara que investiga a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores de Trump insuflados pelo ex-presidente.

O deputado democrata teria manifestado surpresa ao ficar sabendo que o filho “zero três” de Bolsonaro esteve em Washington dias antes da invasão do Capitólio e se reuniu com aliados de Trump.

Raskin esteve com uma comitiva de representantes de 19 organizações sociais brasileiras que foi aos Estados Unidos denunciar os riscos que corre a democracia brasileira, sob ameaça constante de Bolsonaro. “Está claro que as forças pró-democracia e pró-direitos humanos no Brasil estão com medo de que algo parecido com o que ocorreu nos EUA em 6 de Janeiro (de 2021) possa acontecer em seu país”, disse Raskin depois do encontro.