Ligações perigosas

Justiça dos EUA condena Steve Bannon, mentor de Trump que deu ‘suporte’ ao clã Bolsonaro em 2018

Por fraude, desvio de dinheiro ou desacato, estrategista de Donald Trump está nas páginas policiais com frequência

Reprodução/Twitter
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O primeiro encontro do filho "03" com o guru americano aconteceu em Nova York em 2018

São Paulo – “O cerco da Justiça a Steve Bannon não é um revés apenas para a extrema direita nos Estados Unidos. O fato de Steve Bannon ter sido detido sob a acusação de fraude e desvio de dinheiro da campanha para construção de um muro na fronteira dos EUA com o México é também uma notícia desagradável para o Planalto de Jair Bolsonaro, que construiu laços com o ex-estrategista de Donald Trump.” A citação parece, mas não se refere à notícia desta sexta-feira (22), da condenação do “estrategista” do ex-presidente Donald Trump por desacato ao Congresso.

O cerco da Justiça a Steve Bannon acima mencionado é trecho de uma matéria do jornal espanhol El País, da edição e 20 de agosto de 2020. Na ocasião, o guru do clã Bolsonaro havia sido preso, mas seria solto em seguida, após pagar fiança de U$ 5 milhões.

Já a condenação de sexta foi por desobediência a intimação da comissão que investiga o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021. A Justiça condenou Bannon por duas acusações de se recusar a testemunhar no comitê da Câmara. Sua condenação pode chegar a 30 dias a um ano de prisão, com multa de US$ 100 a US$ 100 mil (R$ 550 mil). A Justiça ainda não fixou a pena.

Sempre nas páginas policiais

Seja por fraude e desvio de dinheiro, como em 2020, ou por desacato, em 2021, o “estrategista” de Trump – que ensinou a família Bolsonaro a criar e disseminar fake news e destruir reputações como estratégia eleitoral – vem frequentando as páginas policiais com frequência.

Em novembro do ano passado, ele se entregou ao FBI, aceitou as condições para não ficar preso e entregou o passaporte, devendo se apresentar regularmente ao juiz e comunicar qualquer viagem. Tudo por não comparecer e prestar esclarecimentos na comissão legislativa que investiga a invasão do Congresso que redundou na morte de cinco pessoas.

Na matéria do El País de 2020, o jornal lembra que a relação entre Steve Bannon e a família Bolsonaro vem de 2018. Em agosto daquele ano, Eduardo Bolsonaro, o filho “Zero 3” do atual presidente brasileiro, conheceu pessoalmente o homem que ajudou a levar Trump à Casa Branca.

Bannon e o “03”

“O encontro aconteceu em Nova York. Para retratar o tom da conversa, o filho do então presidenciável (Bolsonaro) usou a retórica de ojeriza à esquerda, repetida meses depois no aniversário de Bannon, ao resumir que se tratava de uma união de forças contra o marxismo cultural’”, relata o jornal espanhol em sua edição brasileira, hoje extinta.

Bannon nunca admitiu claramente que prestou serviços à campanha de Jair Bolsonaro, mas prestava uma “consultoria informal” à família. Também sempre negou ter participação no esquema da Cambridge Analítica, que se apropriou de dados de 50 milhões de perfis do Facebook para usar a favor de Trump. No passado, o “estrategista” fundou um site de extrema direita (Breitbart News) conhecido por espalhar fake news e racista, que inspirou a competente atuação digital do bolsonarismo no Brasil.

Identidade de gurus

O guru dos Bolsonaro, Olavo de Carvalho (morto em janeiro), é uma espécie de réplica tupiniquim de Bannon. Mas, ao contrário do brasileiro, o guru americano chegou ao poder. Ele ocupou na Casa Branca um cargo similar ao do ministro da Casa Civil de Brasília, de onde foi demitido em agosto de 2017. “Estamos gratos pelo serviço que ele prestou e lhe desejamos o melhor”, comunicou a Casa Branca na época.

Quando esteve com Bannon pela primeira vez, o “zero 3” explicou que a relação “não inclui nada de financeiro”. “O suporte é dica de internet, de repente uma análise, interpretar dados, essas coisas”, declarou Eduardo Bolsonaro, ilustrando com uma foto com Bannon no Twitter.