Escárnio cúmplice

Sem mencionar Bolsonaro, Aras se manifesta sobre urna eletrônica com vídeo antigo

Em vez de atitude efetiva contra ameaça golpista, PGR divulga vídeo de conversa com jornalistas estrangeiros ocorrida antes de encontro de Bolsonaro com embaixadores

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Segundo Aras, “as instituições existem para intermediar e conciliar os sagrados interesses do povo"

São Paulo – Depois de ser cobrado por inúmeras entidades, pela sociedade civil, por políticos e pela própria categoria, o procurador-geral da República, Augusto Aras, postou nesta quinta-feira (21) um vídeo antigo para dizer que se posiciona a favor das urnas eletrônicas do sistema eleitoral brasileiro. A gravação é anterior aos ataques de Jair Bolsonaro às eleições, aos tribunais e aos ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, cometidos na segunda-feira (18), em reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores de dezenas de países. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), continua em silêncio.

Como o vídeo de Aras é de uma conversa com jornalistas de órgãos de imprensa estrangeiros no último dia 11, ele não respondeu aos questionamentos que cobravam uma posição sobre a ameaça golpista demonstrada aos diplomatas, pela qual Bolsonaro é acusado de cometer inúmeros crimes, inclusive de responsabilidade.

Na gravação que postou, Aras afirma: “Nós aqui não aceitamos a alegação de fraude, porque nós temos visto o sucesso da urna eletrônica, ao longo dos anos, especialmente, no que toca à lisura dos pleitos”.

Aras não menciona a reunião de Bolsonaro com embaixadores nem mesmo na abertura do vídeo, no qual mostra um texto em que fala genericamente “dos últimos acontecimentos do país” e defende “a necessidade de distanciamento, independência e harmonia entre os poderes”. Acrescenta que “as instituições existem para intermediar e conciliar os sagrados interesses do povo, reduzindo a complexidade das relações entre governantes e governados”.

O procurador-geral diz ainda que “a democracia é o governo dos contrários (…) passa por uma tensão permanente, mas uma democracia se revela mais pujante, mais forte, na medida em que ela consegue resistir, com as suas instituições, a essa pressão contínua”.

Pressão

A insuficiente manifestação de Aras, anterior ao encontro de Bolsonaro e embaixadores, se dá após um grupo de 43 integrantes da Procuradoria Federal do Direitos dos Cidadãos (PFDC) enviar uma notícia-crime à PGR pelo ataque ao sistema eleitoral e depois de 31 subprocuradores da República emitirem nota de apoio ao TSE.

Deputados de oposição apresentaram ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime pedindo investigação da fala golpista de Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. A competência de iniciar a apuração é de Aras.

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