Celulares apreendidos

Reportagem mostra que Aras trocou mensagens com empresários golpistas

Segundo o site Jota, um dos amigos do procurador-geral Augusto Aras é o empresário Meyer Nigri, da construtora Tecnisa, alvo da Polícia Federal nesta terça-feira

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Aras ficou irritado com a operação da PF contra os empresários bolsonaristas

São Paulo – O procurador-geral da República, Augusto Aras, trocou mensagens com empresários bolsonaristas que foram objeto de operação da Polícia Federal deflagrada na manhã desta terça-feira (23). As mensagens foram encontradas nos celulares apreendidos pela Polícia Federal com esses empresários, na ação da PF autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi confirmada por fontes da própria PF, do Ministério Público Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o site Jota, que divulgou a notícia.

Moraes determinou ainda a quebra de sigilo bancário e o bloqueio das contas bancárias dos empresários e dos seus perfis nas redes sociais. Segundo as fontes mencionadas pelo Jota, haveria críticas à atuação do ministro Moraes nas mensagens, o que foi revelado apesar de elas estarem em sigilo. De acordo com o site, um dos amigos de Aras é o empresário Meyer Nigri, da construtora Tecnisa, citado nominalmente no discurso de posse de Aras como procurador-geral.

Não posso deixar de cumprimentar um amigo de todas as horas neste momento em que vivenciamos. E faço uma homenagem especial ao amigo Meyer Nigri, em nome de quem cumprimento toda a comunidade judaica, que comemorou 5.780 anos nos últimos dias”, disse Aras na ocasião.

A Polícia Federal cumpriu na manhã de hoje vários mandados de busca tendo como alvo oito empresários que defenderam, em grupo do WhasApp, um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença as eleições. São eles Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii; André Tissot, do Grupo Serra; e o já citado Meyer Nigri, da Tecnisa, amigo de Aras. 

Aras irritado

Segundo outra matéria, esta da Folha de S. Paulo, Aras demonstrou irritação com a operação da PF contra os empresários. Os relatos, de acordo com o jornal, dão conta de que, para o PGR, a medida de Moraes poderia dinamitar os supostos esforços do Executivo e do Judiciário por um acordo que ponha fim nas ameaças golpistas de Jair Bolsonaro (PL).

No entanto, também nesta terça-feira, Moraes se reuniu com o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. De acordo com informação divulgada pela CNN Brasil, o militar teria dito a aliados que foi aberta uma porta de diálogo entra as duas partes.

Hang: “Não podemos esperar acabar o jogo”

O empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, um dos alvos da PF, afirmou que não desferiu ataques a ministros do STF no grupo de apoiadores de Bolsonaro. Mas as mensagens obtidas pela coluna do jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, indicam outra coisa. Hang era usuário “frequente” do grupo Empresários & Política e compartilhou diversas mensagens com ataques a ministros do STF, diz o colunista.

Hang encaminhou uma mensagem em 27 de maio questionando a confiabilidade do TSE e dizendo que o STF anulou as condenações de Lula com um objetivo: “Por que o tremendo desgaste do Supremo para tirar Lula da cadeia, se não fosse para torná-lo presidente? Você pode duvidar de tudo no Brasil, exceto do TSE de Fachin, Alexandre e Barroso. O TSE comprovará que o DataFolha está corretíssimo. Não podemos esperar acabar o jogo para pedirmos o VAR”, diria mensagem encaminhada por Hang, segundo Amado.