Contra o golpe

Mídia internacional destaca comitiva brasileira nos EUA por apoio à democracia e eleições

Segundo o The Washington Post, os paralelos entre “o líder demagógico do Brasil” e Donald Trump eram óbvios desde que Bolsonaro assumiu

Clauber Cleber Caetano / PR
Clauber Cleber Caetano / PR
Washington Post classifica reunião de Bolsonaro com embaixadores de "espetáculo surreal em Brasília"

São Paulo – A comitiva com representantes de 19 organizações sociais brasileiras que está nos Estados Unidos participando de eventos e reuniões para denunciar os riscos que corre a democracia do país, ameaçada pelo presidente Jair Bolsonaro, alcança repercussões importantes na mídia mundial nesta quarta-feira (27). “Muitos no Brasil estão pedindo à comunidade internacional que preste atenção ao que está em jogo”, destaca em sua edição de hoje The Washington Post, o mais importante veículo da capital norte-americana. A intenção da comitiva é informar as autoridades estrangeiras “sobre a realidade do processo eleitoral” brasileiro do ponto de vista da sociedade civil.

A delegação, coordenada pelo Washington Brazil Office, solicita a autoridades dos EUA o apoio às instituições democráticas brasileiras, diz o jornal. A comitiva se reuniu com autoridades do Departamento de Estado americano, pediu a presença do senador Bernie Sanders e ainda nesta quarta conversaria com o deputado Jamie B. Raskin, membro da comissão da Câmara que investiga a invasão do Capitólio, em 6 de  janeiro de 2021.

Segundo o Post, “os paralelos entre o líder demagógico do Brasil, Jair Bolsonaro, e o presidente Donald Trump eram óbvios desde que o primeiro assumiu o cargo”. Uma vez chegados ao poder, ambos “travaram implacáveis ​​guerras culturais”, continua o periódico. O ex-presidente republicano e o colega de extrema-direita brasileiro “favoreceram os interesses empresariais corporativos e os cristãos evangélicos”, trabalharam contra os acordos sobre as mudanças climáticas e encararam a pandemia de covid-19 com negacionismo, continua.

“Agora, antes das eleições nacionais do Brasil em outubro, parece que Bolsonaro pode terminar seu mandato de maneira semelhante a Trump”, diz o Post, que destaca o fato de o atual presidente estar atrás de Lula nas pesquisas “por ampla margem”. “Por meses, ele mergulhou essencialmente na cartilha de Trump, colocando em dúvida a legitimidade do processo eleitoral do Brasil”, conclui o jornal.

O colunista político Ishaan Tharoor, que assina o texto do Washington Post, conversou com o senador Bernie Sanders. “Assim como Trump, Bolsonaro está tentando minar a democracia no Brasil, o maior país da América Latina”, disse o democrata.

A publicação cita a reunião de Bolsonaro em Brasília, na semana passada, com embaixadores, quando praticamente avisou ao mundo de suas intenções golpistas: “Na semana passada, os brasileiros foram confrontados com o espetáculo surreal de uma transmissão de quase uma hora de Bolsonaro dando palestras a dezenas de diplomatas estrangeiros sobre a desonestidade dos sistemas de votação de seu próprio país da capital, Brasília”.

“Atenção internacional é fundamental”

Citando a agência France Presse (AFP), a Radio France Internacional (RFI) destaca o diretor executivo do Washington Brazil Office, Paulo Abrão, segundo o qual “a atenção internacional é fundamental neste momento”.

A RFI ouviu também Flavia Pellegrino, do Pacto Pela Democracia. A ameaça no Brasil é de “um governante autoritário que vem minando as instituições por dentro”, diz ela. “Isso não é bravata ou especulação”, ressaltou. “Um movimento golpista está em andamento no Brasil”, disse Flavia.

Como na semana passada, o Departamento de Estado norte-americano – que confirmou a reunião com a comitiva – destacou a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. “O Brasil tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores”, disse um porta-voz, segundo a RFI.

Na imprensa alemã e britânica

A ação da comitiva brasileira nos EUA também foi destacada na rede alemã Deutsche Welle (DW), em sua edição em português. “As acusações infundadas de Bolsonaro crescem conforme seu nome aparece em desvantagem nas pesquisas eleitorais”, diz a DW.

A comitiva brasileira, acrescenta a DW, inclui representantes do Instituto Vladimir Herzog, da Transparência Internacional, da Comissão Arns e de organizações do movimento negro, ambientalistas e grupos LGTBQ, que apontam “aumento da perseguição” no Brasil nos últimos anos e temem que a situação piore se as eleições forem desrespeitadas.

O britânico The Guardian também destaca o Brasil. Mas aborda a inação do procurador-geral da República diante das denúncias de crimes de Bolsonaro ante a pandemia. “Indignação no Brasil porque Jair Bolsonaro evita cinco acusações relacionadas à resposta contra Covid”, diz o Guardian.