Bolsonaro argentino?

‘Que prevaleça a racionalidade’, afirma Celso Amorim sobre a eleição na Argentina

Convidado do Entre Vistas, da TVT, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais analisa o risco que Javier Milei representa ao Mercosul e à democracia argentina. Candidato ultraliberal lidera as intenções de voto nas eleições presidenciais

TVT/Reprodução
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"Eu espero, como sempre dizia também na época de Bolsonaro, que prevaleça a racionalidade", afirmou Celso Amorim a Juca Kfouri

São Paulo – O assessor especial da Presidência da República para Assuntos de Política Externa, o diplomata Celso Amorim pediu que a “racionalidade prevalência” nas eleições presidenciais da Argentina. Faltando menos de um mês para o pleito no país, o candidato Javier Milei do A Liberdade Avança, sigla da extrema-direita no país, lidera as intenções de voto em todas as pesquisas recentes.

Outsider ultraliberal, Milei tem um discurso antipolítica e contrário às instituições. Além de ser defensor de medidas pouco convencionais, como a dolarização da economia argentina e o fechamento do Banco Central. O extremista, que se declara anarcocapitalista, também tem discursos negacionistas. Para ele, a mudança climática é uma “invenção da esquerda”. O campo político também seria responsável por uma “educação sexual que quer destruir a família”, segundo Milei, também defensor da liberação de armas.

As semelhanças do candidato com os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro levaram-no a ganhar o apelido de “Bolsonaro argentino”, inclusive entre a população local. A fama repercutiu no programa Entre Vistas, da TVT, desta quinta-feira (28), quando Amorim foi questionado pelo jornalista argentino do site Página/12 Martín Granovsky sobre o significaria a eleição de Milei para o Brasil. Cauteloso, Celso Amorim explicou ao jornalista Juca Kfouri que as preferências brasileiras são conhecidas e disse apostar no espírito progressista da Argentina.

O que está em jogo na Argentina

“A Argentina é um povo soberano, de alto nível de educação. Eu me lembro do tempo em que se dizia, não sei se ainda é verdade hoje, que Buenos Aires tinha mais livraria do que o Brasil inteiro. Tinha três prêmios Nobel de ciência. É um país com alto nível de educação, básica, média e superior. Então eu espero, como sempre dizia também na época de Bolsonaro, que prevaleça a racionalidade”, afirmou. De acordo com Amorim, o resultado será determinante para a integração latino-americana, em especial, para o Mercosul.

Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ver riscos ao bloco econômico com a vitória da ultradireita. “Acabamos de apoiar o convite para que a Argentina faça parte do Brics, o que é importante até para o equilíbrio do Brics. Então temos que torcer por isso”, acrescentou Amorim. Além de Milei, também disputam o cargo máximo no país Sergio Massa (União pela Pátria, de esquerda) e Patricia Bullrich (Juntos pela Mudança, de direita). Massa, que é ministro da Economia na Argentina, vem crescendo nas pesquisas. Mas, com apoio da imprensa e de governadores, Patricia vem buscando recuperar terreno nesta reta final.

Em oito pesquisas listadas pelo Página 12 nesta semana, Milei, porém, aparece em primeiro lugar, com uma vantagem sobre Massa que varia de 0,8% a 8%, e Bullrich em terceiro. O primeiro turno das eleições está marcado para 22 de outubro.

Lula na ONU

O assessor especial advertiu que a gestão Bolsonaro foi um “pesadelo do qual você não vai lembrar quando acorda”. “Ele (ex-presidente) anunciou que gostaria de desconstruir o Brasil, foi a palavra que usou. E ele fez muito nesse sentido, negativamente, não só na área da política externa. Tinha um chanceler que dizia que era bom ser pária internacional, algo inacreditável. Eu estive em 16 assembleias gerais da ONU, seja como ministro ou embaixador. E nunca vi uma coisa igual”, lamentou.

Amorim também comentou sobre o discurso na ONU do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que projetou a volta do Brasil ao protagonismo internacional.

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