Ameaça

Javier Milei, um Bolsonaro argentino, surpreende e vence primárias para eleições de outubro

Partido do governo de Alberto Fernández, com ministro da Economia, Sergio Massa, apenas em terceiro lugar, tem pior desempenho peronista na história das prévias

Reprodução/Youtube
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Fenômeno Milei é semelhante ao que levou Bolsonaro ao poder: indignados com a política tradicional

São Paulo – O candidato de extrema direita argentino Javier Milei surpreendeu o país e seus próprios correligionários e foi o mais votado nas eleições primárias da Argentina, realizadas neste domingo (13). Nas primárias são escolhidos os candidatos das eleições, que este ano serão em 22 de outubro. Com 97,39% dos votos apurados, a chapa de Milei, Liberdade Avança, tinha 30,04% dos votos. A chapa Juntos pela Mudança, com Patricia Bullrich – ex-ministra da Segurança do governo de Mauricio Macri – também de oposição ao governo peronista de Alberto Fernández, com 28,7% dos votos, ficou em segundo lugar. Bullrich teve 16,98%.

Já a chapa governista, União Pela Pátria, chegou só no terceiro posto, com 27,27% dos votos. O  ministro da Economia, Sergio Massa, foi o mais votado da legenda com 21,41% e vai representar a situação na eleição que será realizada em 22 de outubro. Segundo analistas, é o pior desempenho do peronismo na história das prévias.

Ultraliberal e “anarcocapitalista”

O extremista Milei é economista ultraliberal e se declara “anarcocapitalista”. Suas propostas são dolarizar a economia e fechar o Banco Central do país. Admira o brasileiro Jair Bolsonaro (PL) e o norte-americano Donald Trump (Republicanos). Para ele, a mudança climática é uma invenção da esquerda, a educação sexual existe para destruir a família e a posse de armas de fogo deve ser liberada.

O fenômeno que está elevando Milei no cenário argentino é semelhante ao que fez ascender Bolsonaro no Brasil: setor despolitizado da sociedade formado por indignados com a política tradicional. Num estilo típico de Olavo de Carvalho, o “filósofo” bolsonarista, o extremista argentino tem como slogan “Viva a Liberdade, caralho”.

Ele comentou a vitória provisória dizendo que ela “não só dará fim ao kirchnerismo, dará fim a toda a casta política ladra, parasitária e inútil que afunda este país”. Segundo o jornal Página12, “encorajado” por ter sido o mais votado, Javier Milei prometeu que, se for eleito presidente, aplicará um programa de “ajuste fiscal muito mais profundo” do que o proposto pelo Fundo Monetário Internacional.

“É preciso ter convicção”

Em entrevista à rádio Continental, Milei previu que após as eleições gerais de outubro “teremos o poder de fazer as coisas”. “É preciso saber o que fazer, como fazer e ter convicção. Somos claros sobre o diagnóstico, somos claros sobre o que queremos fazer e como fazer. E a condenação não é um elemento menor”, ​​declarou.

O ex-presidente neoliberal Mauricio Macri fala em fim do kirchnerismo, o que é um exagero. O desempenho do governador peronista da Província (Estado) de Buenos Aires, Axel Kicillof, aliado da ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner, tem boas chances de se reeleger. Isso dá ânimo ao peronismo, uma vez que a Província reúne 37,8% da população argentina e mais de um terço do eleitorado do país.