Furor privatista

Movimentos sociais discutem ações contra desapropriações na rodovia Raposo Tavares

Impacto com obra de modernização da rodovia deve envolver um milhão de metros quadrados em desapropriações, estimam movimentos sociais que lutam contra projeto de concessão da rodovia acolhido pelo governador de São Paulo

Victor Lopes / CC
Victor Lopes / CC
Trecho da Raposo Tavares que corta o Butantã: prédios residenciais às margens da rodovia

São Paulo – Movimentos sociais, associações de moradores e ambientalistas que atuam nas regiões do Butantã, na zona oeste de São Paulo, e no município de Cotia realizaram no sábado (4) sessão plenária para discutir sobre ações contra o projeto de reforma e alargamento da rodovia Raposo Tavares. O projeto é antigo, mas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), adotou a obra em seu programa de concessões e privatizações.

A ideia do governo estadual é conceder o trecho inicial da rodovia, atualmente sob gestão do DER, para o setor privado. Este, por sua vez, planeja investir R$ 9 bilhões até 2033 na remodelação completa da rodovia. A concessionária CCR, que já administra outros trechos da Raposo, pretende fazer mais vias na estrada. E novos acessos com túneis para facilitar a conexão com São Paulo, sem semáforos.

As desapropriações envolvem cerca de 1 milhão de metros quadrados, segundo estimativa feita por engenheiros dos movimentos sociais ao portal UOL. Esse número pode representar mais de 12 mil famílias afetadas, considerando uma área média de 80 metros quadrados por habitação.

No trecho entre São Paulo e Cotia, o governo prevê seis pórticos de pedágio free flow, sistema automático sem as tradicionais praças de cobrança. O projeto prevê a instalação desses pórticos já em março de 2026, antes, portanto, da entrega da remodelação viária.

Segundo o projeto, haverá pórticos nos seguintes pontos: Km 11,8 (R$ 0,62), Km 15,1 (R$ 0,77), Km 19,8 (R$ 0,92), Km 24,7 (R$ 1,27), Km 29,07 (R$ 1,65) e Km 39,1 (R$ 2,30). Pelo projeto, esses valores serão válidos para o primeiro ano de cobrança.

Reação

Tão logo a mídia alardeou o projeto no dia 9 de abril, os moradores e movimentos sociais se insurgiram contra. Sobretudo pelo fato de o governo não ter feito uma discussão dos impactos ambientais, sociais e econômicos com a população. Para alargar as vias, as desapropriações e remoções de áreas verdes serão enormes, como mostra a previsão dos movimentos sociais.

Estão na linha do projeto da Raposo Tavares, por exemplo, o Parque Previdência, no Butantã, à margem da rodovia no sentido São Paulo e com área de 91.500 metros quadrados; e a Comunidade Cidade Nova Piemonteses, localizada no Km 17 (sentido interior), que existe há dez anos e atualmente reúne 998 famílias e 2.568 pessoas.

Comunidade afetada

O líder da Comunidade Piemonteses, Cristiano de Farias, afirma que a preocupação com o projeto se dá porque até agora ninguém sabe qual destino sua comunidade terá. “Nós não somos necessariamente contra o projeto. Mas temos que conhecer, temos que ver o impacto ambiental desse projeto, temos que ter audiências públicas no Butantã, porque não é só a questão dos pedágios que nós também temos que discutir”, afirma à reportagem da RBA.

“Nós não tivemos uma conversa com a Secretaria de Transporte do Estado de São Paulo, nós não tivemos uma conversa com o governador, nós não tivemos uma conversa com as pessoas que estão fazendo esse projeto, então isso nos preocupa demais”, destaca ainda Farias. Pela localização bem à margem da Raposo, sua comunidade seria totalmente removida.

Ônibus e metrô

Para Diva Nunes, do Movimento de Moradia Cohab Raposo Tavares, o projeto é inviável. “Você imagina de oito a dez anos aqui, fazendo essa obra”, afirma, em referência ao tempo estimado pelo governo para o projeto. Acostumada a usar linhas de ônibus que percorrem a rodovia, Diva diz que observa das janelas do transporte coletivo o grande número de carros que passam pela região com apenas um ocupante.

“Coloca um metrô, o que a gente quer é metrô, pode ser aquele metrô aéreo, pode ser o metrô por debaixo da terra, pode ser uma alça do metrô do Morumbi, ou o mesmo também lá do Butantã”, defende, até porque também existe um projeto de metrô para a região – linha 22, marrom, que ligaria a região de Pinheiros a Cotia.

“Eu acredito que se melhorarem o transporte coletivo, as pessoas vão optar pelo metrô ou ônibus. Não precisa fazer toda essa coisa estrondosa que estão querendo fazer, matando as árvores, derrubando casas, comércios, e outros shoppings, inclusive, vai tudo para o saco. Eu não sei se vai virar isso daí”, desabafa.

O apoio à mobilização contra o projeto pode ser dado em abaixo-assinado que nesta segunda-feira conta com cerca de 10.500 adesões. Clique aqui para apoiar.