Disputa dramática

Na Argentina, Milei quer volta a 1860. Massa afirma que ‘o pior já passou’

Argentinos vão às urnas no domingo. Pesquisas indicam que o peronista Sergio Massa deve enfrentar Javeir Milei, de extrema direita, no segundo turno em novembro

Divulgação/Redes Sociais
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Em meio ao caos econômico, argentinos estão entre a moderação de Massa ou o radicalismo de Milei

São Paulo – Em meio a mais uma grave crise econômica, os argentinos vão às urnas no próximo domingo (22) para o primeiro turno das eleições presidenciais. A disputa nas eleições argentinas tem contornos dramáticos. Isso porque parte da população parece disposta a uma espécie de “salto no escuro”, como resposta ao desespero.

De um lado, o candidato da extrema direita, Javier Milei, que comanda a coligação A Liberdade Avança, promete acabar com a “casta” – elites política, econômica e sindical que ele aponta como causa da crise. Ultraliberal, ele promete passar a “motosserra” no Estado argentino, e acabar com pelo menos 10 ministérios – incluindo Saúde, Educação, Trabalho e Assistência Social.

Durante evento de encerramento de campanha, ontem (18), numa casa de shows em Buenos Aires, seus apoiadores jogavam para o alto notas falsas de dólares com a cara do candidato. Isso porque Milei pretende “dinamitar” o Banco Central, abandonando o peso e adotando o dólar como moeda de circulação.

O caminho para a reconstrução da Argentina, segundo ele, é a volta a um passado glorioso idealizado. “Temos que voltar a abraçar as ideias da Constituição de (Juan Bautista) Alberdi. Temos que voltar a 1860, quando de um país de bárbaros, em 35 anos, nos convertemos na primeira potência mundial”.

Destruindo as instituições de estado, ele prometeu aos argentinos um padrão de vida semelhante ao da Itália ou França em até 15 anos. “Se me derem 20, Alemanha. Se me derem 35, Estados Unidos”, afirmou durante o último debate no fim de semana, combinando megolomania com viés autoritário. No entanto, na lista de países que dolarizaram suas economias locais, constam apenas Equador e El Salvador.

Melhor está por vir

Contra as propostas histriônicas de Milei, o ministro da Economia, Sergio Massa, lidera a resistência peronista. O candidato da coligação União Pela Pátria encerrou a campanha com um ato em uma fábrica na província de Buenos Aires.

“Escolhi fazer numa fábrica como símbolo do que acredito, rodeado de professores, aposentados e trabalhadores, tratando da Argentina que começa em 10 de dezembro e quais vão ser as prioridades do meu governo”.

Nessa terça, Massa realizou um grande ato no estádio do Arsenal de Sarandí, no subúrbio de Buenos Aires. Ele apelou principalmente aos indecisos. “Diga a eles que o pior já passou, que o que está por vir é muito melhor e que precisamos fazer isso juntos”, afirmou Massa.

A Argentina enfrenta uma inflação anual de quase 140% e tem 40% da população na pobreza. Desde 2018, o país tem um programa de crédito de US$ 44 bilhões com o FMI. De perfil moderado, o candidato governista aposta na lógica do “ruim com ele, pior sem ele”. E pior ainda com Milei, cujas propostas desagradam até mesmo os representantes do mercado financeiro.

Ainda no final de agosto, Massa lançou um pacote de medidas para tentar recuperar a economia argentina. As medidas incluem reduções de impostos e uma série de benefícios para assalariados, trabalhadores autônomos, aposentados e pequenas e médias empresas.

Bulrich com Macri

Encabeçando a chapa Juntos pela Mudança, a candidata Patricia Bullrich, encerrou a campanha com um ato em Lomas de Zamora, na Grande Buenos Aires, ao lado do ex-presidente Mauricio Macri, de quem foi ministra da Segurança. O empréstimo que Macri negociou com o FMI é considerado pelos argentinos um dos principais fatores que contribuem para a crise econômica atual.

Assim, seu principal apoiador é também um peso para Bullrich, que tenta sobreviver à polarização entre Massa e Milei. Nesse sentido, ela aposta no discurso de combate à corrupção. Durante a campanha, chegou a prometer que construiria uma prisão de segurança máxima, a qual daria o nome de “Cristina Fernández de Kirchner”, em alusão crítica a atual vice e ex-presidenta do país, um dos principais expoentes da ala esquerda do peronismo.

O que dizem as pesquisa

Os principais institutos de pesquisa apontam que a disputa pela presidência argentina deve ir para o segundo turno, em 19 de novembro. Assim, para vencer já na primeira volta, o candidato precisa conquistar 45% dos votos ou 40%, com 10 pontos percentuais a mais do que o segundo colocado.

Pesquisa AtlasIntel, divulgada na última sexta-feira (13), aponta a liderança de Massa, com com 30,9% das intenções de votos. Milei aparece com 26,5% e Bullrich, com 24,4%. Coadjuvantes, Juan Schiaretti (Fazemos por Nosso País) e Myriam Bregman (Frente de Esquerda), têm 10% e 3,2%, respectivamente.

Por outro lado, dois levantamentos que também saíram na semana passada colocam o candidato da extrema-direita na dianteira.

Em pesquisa da Opina Argentina, Milei tem entre 34% e 35% dos votos, seguido por Massa, entre 29% e 30%, e Bullrich, oscilando entre entre 24% e 25%. Schiaretti e Bregman ficaram com menos de 5%. Do mesmo modo, levantamento da Synopsis Consultores mostrou Milei com 36,5%, seguido por Massa com 29,7% e Bullrich com 23,8%. Os outros dois também ficaram abaixo dos 5%.