Rumo ao 2º Turno

Sergio Massa defende governo de unidade na Argentina e tenta atrair eleitorado de Bullrich

Massa quer o apoio da coligação Juntos pela Mudança, terceira colocada no primeiro turno. O grupo também é alvo de Javier Milei, que já aposta no discurso de fraudes no sistema eleitoral

Página 12/Reprodução
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Peronista aposta na democracia para vencer Javier Milei. "Quero dizer que vou fazer os maiores esforços para ganhar sua confiança nos próximos dias", discursou

São Paulo – O candidato da coligação governista, Sergio Massa, que obteve 37% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial, realizado ontem (22), defende um governo de unidade para a Argentina. À frente de seu oponente Javier Milei, de extrema direita, que ficou com 30% dos votos, Massa acenou para outros partidos, além de sua base peronista. Em seu primeiro discurso após a divulgação do resultado, ele adiantou parte de sua estratégia para buscar votos de eleitores que votaram em branco, se abstiveram de votar e até mesmo os radicais.

“Quero falar aos milhares de radicais que compartilham conosco valores democráticos, como a educação pública, a independência de poderes, a construção de valores institucionais que a Argentina merece. Mas também quero falar com aqueles que escolheram outra opção pensando na necessidade de ter uma Argentina em paz, sobre a base de construção de valores democráticos, de respeito às instituições, sem incertezas. Quero dizer que vou fazer os maiores esforços para ganhar sua confiança nos próximos dias”, discursou Massa.

Entre essas virtuais apoios mirados por Massa está a União Cívica Radical, tradicional partido argentino que participou da aliança política do ex-presidente Maurício Macri, derrotado à reeleição pelo atual mandatário argentino, o peronista Alberto Férnandez. Neste pleito, a legenda participou da coligação Juntos pela Mudança, que teve como candidata Patrícia Bullrick, que terminou em terceiro, com 23,8%. Apesar de não ter o apoio formal da candidata, Massa pretende atrair parte de seu eleitorado para vencer o candidato Javier Milei no dia 19 de novembro. Representante da extrema direita, Milei faz parte da coligação La Libertad Avanza. O candidato é considerado uma “ameaça à democracia argentina”– o que será usado por Massa.

“Muitos dos que votaram em nós são os que mais sofrem, não vou decepcioná-los. Saiba que desde 10 de dezembro ‘não vou decepcioná-los'”, acrescentou. Sergio Massa, de 51 anos, é também o atual ministro da Economia da Argentina. Segundo pesquisas, ele não era o favorito no pleito. Por isso, o resultado foi considerado surpreendente. 

“Reviravolta histórica”

De acordo com o jornal argentino Página 12, a “reviravolta histórica” tem relação com “as políticas implementadas e impostas pelo ministro que já governou perante um presidente desbotado”. Tanto é que a gestão do governador peronista Axel Kicillof em Buenos Aires, que serviu de barreira contra a extrema-direita de Milei e garantiu uma votação expressiva de Massa, ocorreu também nas províncias de Tucumán e Rioja, onde o peronismo recuperou votos perdidos. Dessa forma, a chapa do ministro e seu candidato a vice, Agustín Rossi, registrou um aumento de 15 pontos para a coligação União pela Pátria.

Massa procurou lideranças vizinhas, preocupadas com Milei

Massa também deu indiretas a Milei, ao destacar que afirmar que as crianças argentinas precisam ir para a escola com “computadores na mochila, e não armas”. Na contramão do candidato de direita, que propõe facilitar o acesso às armas de fogo. O candidato também comentou que conversou com líderes de outros países ao longo deste domingo. Sem citar nomes, Massa confirmou que as lideranças estão “preocupadas” com o pleito.

“Ao longo do dia eu recebi o chamado de muitos presidentes e dirigentes de outros países, que obviamente olhavam com interesse o que acontecia na eleição. E olhavam com interesse porque sabem que queremos uma Argentina integrada, que acreditamos no multilateralismo, somos garantia de seriedade na hora de estabelecer relações”, observou.

Milei, que já deu declarações criticando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é considerado também uma ameaça à integração latino-americana, em especial para o Mercosul. Outsider ultraliberal, Milei, 52 anos, também chamado de “Bolsonaro da Argentina” tem um discurso antipolítica e contrário às instituições. Defensor de medidas pouco convencionais, como a dolarização da economia argentina e o fechamento do Banco Central, o extremista se declara anarcocapitalista e tem discursos negacionistas. Para ele, a mudança climática é uma “invenção da esquerda”. O campo político também seria responsável por uma “educação sexual que quer destruir a família”, segundo Milei.

Rostos incrédulos

Milei era apontado como o favorito e em seu primeiro discurso, neste domingo, se esquivou de reconhecer o triunfo de seu adversário, colocando em dúvida os resultados eleitorais, alegando fraude. Como no Brasil, com Bolsonaro, apesar da falta de provas, a “operação desconfiança” será uma das principais estratégias do extremista.

O candidato também destacou o interesse em fazer uma aliança com os derrotados “para acabar com o kirchnerismo, ‘essa organização criminosa’, a pior coisa que aconteceu à Argentina”, afirmou. O resultado eleitoral, porém, pegou de surpresa a campanha do extremista. “Nunca falamos em vencer no primeiro turno”, afirmou, negando as próprias declarações de Milei que, ao contrário, falava em vitória no primeiro turno. Entre os rostos incrédulos que acompanhava a votação da sala montada pelo coligação A lliberdade avança, estava o do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que aliás passou vexame ao ser cortado em entrevista ao vivo.

Sobre a eleição

Ao todo, 77,7% dos eleitores argentinos foram às urnas neste domingo. A participação superou os 69% que votaram nas primárias em agosto. A porcentagem ficou acima do recorde negativo anterior: 76,2% em 2007, quando a ex-presidenta Cristina Kirchner venceu pela primeira vez. O país tem 35,8 milhões de eleitores, sendo 449 mil no exterior. Massa teve mais de 9,6 milhões de votos e Minei, 7,9 milhões. Os votos em branco somaram 2%, de acordo com os dados da Câmara Nacional Eleitoral.

Redação: Clara Assunção
Com informações do Página 12


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