Democracia x Barbárie

Mais de 100 economistas alertam que eleição de Milei provocará ‘devastação’ na Argentina

Em carta aberta, economistas como Thomas Piketty, Jayati Ghosh e o ex-chefe do Banco Mundial Branko Milanović alertam para o risco de propostas do candidato da extrema direita agravarem a desigualdade e a crise econômica

Reprodução
Reprodução

São Paulo – A nove dias da eleição presidencial na Argentina, um grupo com mais de 100 economistas influentes em todo o mundo aponta que a vitória do candidato da extrema direita Javier Milei provocará um quadro de “devastação” e de caos social no país. O alerta é mencionado numa carta aberta, divulgada ontem (8), em que os economistas afirmam compreender o “desejo profundo de estabilidade econômica” da população, dadas as frequentes crises financeiras da Argentina e as constantes altas inflacionárias.

No entanto, os especialistas advertem que “embora soluções aparentemente simples possam ser apelativas, é provável que causem mais devastação no mundo real no curto prazo, ao mesmo tempo que reduzem severamente o espaço político no longo prazo”, observam. Entre os signatários do documento, estão o francês Thomas Piketty, o indiano Jayati Ghosh, o sérvio-americano Branko Milanović, ex-chefe do Banco Mundial, e o ex-ministro das Finanças da Colômbia José Antonio Ocampo.

A carta ainda destaca que as propostas de Milei são apresentadas como uma “saída radical para o pensamento econômico tradicional”. Quando, na verdade, elas estão baseadas no “laissez-faire econômico”, de não intervenção do Estado na economia. E são “cheias de riscos que as tornam potencialmente muito prejudiciais para a economia argentina e para o povo argentino”.

Milei é ‘porta para as desigualdades’

Outsider ultraliberal, Milei buscou ao longo da campanha se notabilizar por um discurso antipolítica e contrário às instituições. Além de ser defensor de medidas pouco convencionais, como a dolarização da economia argentina e o fechamento do Banco Central. O extremista, que se declara anarcocapitalista, também tem discursos negacionistas e é comparado aos ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. O que o levou a ganhar o apelido de “Bolsonaro argentino”, inclusive entre a população local.

Para os economistas, as propostas de dolarização e austeridade fiscal do candidato da extrema direita “ignoram as complexidades das economias modernas”, apontam. “Ignoram as lições das crises históricas e abrem a porta para acentuar as já graves desigualdades”. O grupo de especialistas completa que uma grande redução nas despesas governamentais, com a ideia de Milei de cortar investimentos sociais, isso “aumentaria os já elevados níveis de pobreza e desigualdade, e poderia resultar num aumento significativo das tensões sociais e dos conflitos”.

Milei foi o mais votado nas prévias eleitorais argentinas deste ano e era tido como o favorito ao pleito. O candidato da extrema-direita acabou, porém, ficando em segundo lugar no primeiro turno, perdendo para o atual ministro da Economia e candidato governista Sergio Massa. Para este segundo turno, marcado para o dia 19, os dois candidatos aparecem com empate técnico em grande parte das sondagens. O ultradireitista também vem diminuindo sua distância em relação ao peronista.

Disputa voto a voto

O jornal argentino Página 12 divulgou, na segunda-feira (6), pesquisa apontando Massa na frente, com 42,4% das intenções de voto, ante 39,7% de Milei. Em 22 de outubro, a diferença entre os dois era de 8 pontos e agora é de 3. Já uma média do portal La Política Online indicou resultado mais apertado, com o ultradireitista com 42,9% e o peronista, 42,8%. A avaliação é que o pleito argentino repita o que o ocorreu no Brasil, com a disputa voto a voto entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O chefe do Executivo brasileiro, inclusive, vem sendo alvo do candidato da direita. Em entrevista, Milei afirmou que, se eleito, não se reunirá com Lula por ele ser “corrupto” e “comunista”. O governo federal decidiu, contudo, não se posicionar. Um ministro da equipe afirmou à Folha de S. Paulo que a declaração será “ignorada”. E acusou o candidato de querer “puxar a briga” para depois acusar o mandato do presidente de “interferência”. “Um bravateiro”, resumiu.

Sem apresentar provas, Javier Milei vem acusando Lula de interferir nas eleições vizinhas. Nesta semana, o candidato chegou a acusar o petista de financiar a campanha de seu adversário.

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


Leia também


Últimas notícias