Estado de sítio

Milei enfrenta protestos e congelamento de dinheiro chinês 10 dias após sua posse

Radical de extrema direita, presidente da Argentina Javier Milei enviou tropas para impedir manifestações. Enquanto isso, vê Pequim suspeitar de seus atos

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Milei retira intevenções estatais na economia. Em uma economia fragilizada, endividada e com baixas reservas, o resultado é a fome e a miséria

São Paulo – Milhares de argentinos foram às ruas hoje (20) contra o presidente extremista Javier Milei. De acordo com o Polo Obrero, uma das entidades que convocou o protesto, mais de 50 mil pessoas compareceram. Do lado do governo, o resultado já era esperado, com intensa repressão pelas forças policiais. Por volta das 16h, em Buenos Aires, a polícia local entrou em confronto com os manifestantes, seguindo ordens diretas do gabinete de Milei. Enquanto isso, o presidente que tomou posse no último dia 10 enfrenta – também de forma previsível – dificuldades com a China, que suspendeu um acordo comercial com o país.

A manifestação é de viés pacífico, e cobra o fim dos ajustes econômicos ultraliberais extremamente rígidos. Na prática, Milei retira intervenções estatais na economia. Em uma economia fragilizada, endividada e com baixas reservas, o resultado é a fome e a miséria da massa trabalhadora argentina. Além disso, em poucos dias de mandato, o ultradireitista já demonstrou seu viés autoritário, o que pode inflamar ainda mais o povo insatisfeito com as condições de vida no país.

Política autoritária de Milei

No último dia 14, a ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, divulgou um pacote antiprotestos, ou antipiquetes no jargão local. Nos dias seguintes, este protocolo ganhou mais detalhes. Entre eles, manifestantes em desacordo com as vontades do governo poderão perder o acesso a benefícios sociais. As principais medidas contra manifestações são:

  • As organizações que participarem frequentemente na criação de piquetes estarão em uma lista do governo.
  • Informações de manifestantes estrangeiros com residência provisória irão para a Direção Nacional de Imigração da Argentina.
  • A participação de crianças e adolescentes resultará na notificação das autoridades. Então, haverá sanções aos acompanhantes dos menores de idade.
  • Um juiz competente será notificado se as ações resultarem em danos ambientais.
  • As organizações sociais responsáveis pelos protestos deverão arcar com os custos das operações de segurança.

O ato

Informações da imprensa local dão conta de que prenderam duas pessoas, pelo menos. Já a presença policial é intensa. Falam em mais de 2 mil agentes de forças de choque antiprotesto. Em determinados locais, o relato da imprensa comercial argentina dá conta da presença de até um policial para cada dois manifestantes.

A justificativa para a ação violenta é de que os manifestantes não poderiam fechar ruas. Então, eles deveriam estar apenas na Plaza de Mayo, na região central da capital. Contudo, o local não comporta 50 mil pessoas. “É onde as pessoas se movimentam em todas as partes do mundo (as ruas). Onde vamos colocar 50 mil pessoas?”, questionou Eduardo Belliboni, líder do Polo Obrero, para a agência de notícias AP.

“Hoje tivemos uma operação digna de uma guerra e de um estado de sítio na Argentina contra o que é uma manifestação pacífica. Desde a manhã o governo está aterrorizando a população que, no entanto, está chegando em massa”, completou Belliboni. O Polo Obrero é uma organização social que representa trabalhadores de base, desempregados e pobres.

Ação chinesa

Enquanto as ruas de Buenos Aires e outras cidades vivem protestos, a política externa do extremista começa a dar sinais de fraqueza. Durante sua campanha, Milei disse que não negociaria com países “comunistas”, como Brasil e China, os maiores parceiros comerciais da Argentina. Contudo, arrefeceu seu discurso após a posse. Mesmo assim, os chineses demonstraram hoje um ato de grande desconfiança com o político radical.

Pequim congelou o financiamento de US$ 6,5 bilhões (R$ 31,6 bilhões) a partir de linha de swap cambial para a Argentina, parte de um acordo entre o então presidente argentino Alberto Fernández e seu homólogo chinês, Xi Jinping. Este dinheiro teria como destino o pagamento de dívidas com taxas mais prejudiciais com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na semana passada, contrariando sua postura de ataques constantes à “ditadura chinesa”, Milei enviou uma carta a Pequim pedindo a renovação do financiamento. Contudo, agora terá de esperar. Xi Jinping convocou o embaixador chinês em Buenos Aires, Wang Wei, de volta à capital do gigante asiático. Ele apresentará relatórios sobre a situação da Argentina, e se o país “tem boas intenções”. Caso positivo, as relações podem voltar à normalidade com seu regresso ao país latino em janeiro.