O horror

Itamaraty tenta agilizar saída de brasileiros em Gaza. Israel nega cessar-fogo, e EUA apoiam

“Aqui não há água, não há comida, não há vida”, diz agência da ONU, citando mais de 6 mil mulheres e crianças mortas em Gaza

UNRWA
UNRWA
Dezenas de instalações de agência da ONU foram atingidas em quase 28 dias de conflito

São Paulo – O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, conversou nesta sexta-feira (3) com o chanceler de Israel, Eli Cohen. Segundo o Itamaraty, o objetivo era reforçar “as gestões pela liberação da passagem dos brasileiros retidos em Gaza, para que possam ser imediatamente repatriados ao Brasil, via Egito”. Há 34 brasileiros na região do conflito.

Em três listas recentes de estrangeiros autorizados a sair, nenhuma tinha cidadãos brasileiros. O Itamaraty informou ainda que este foi o terceiro telefonema entre os ministros nas últimas semanas. E o primeiro desde a abertura do posto fronteiriço de Rafah, entre Egito e Gaza, na última quarta-feira (1º).

Vieira espera que os 34 brasileiros cruzem a fronteira até a próxima quarta-feira (8). “Ele (Cohen) me garantiu que sairão até quarta-feira, que fará todo o possível para antecipar um ou dois dias, mas na quarta-feira dá todas as garantias”.

Conversa entre ministros brasileiro e israelense: gestões (Foto: Itamaraty)

Ataque a ambulância em Gaza

Também hoje, o governo israelense informou ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que não haverá cessar-fogo a menos que os reféns – seriam 242 – em poder do Hamas sejam libertados. A declaração foi reforçada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O exército confirmou ter bombardeado uma ambulância perto de hospital em Gaza e alegou que o veículo era usado por integrantes do Hamas. Já o Ministério de Saúde palestino afirma que havia feridos na ambulância.

Blinken encontrou-se com o presidente de Israel, Isaac Herzog, e também com Netanyahu. Em rede social, declarou que os Estados Unidos apoiam o direito de Israel se defender, “conforme o direito humanitário internacional”. E acrescentou: “Israel tem o direito de se defender contra o terrorismo e garantir que isso nunca mais aconteça. Discutimos medidas concretas que podem e devem ser tomadas para proteger os civis”.

“O que fizemos de errado?”

Enquanto os Estados Unidos dão aval para os seguidos ataques, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) informou hoje que falta água e comida na Faixa de Gaza. E postou uma imagem com os seguintes dizeres e a hashtag #HearTheirVoices (Ouça suas vezes): “Aqui não há água. Não há comida. Não há vida. Estas são crianças. Você devia se envergonhar. O que fizemos de errado?”.

A agência informou que desde 7 de outubro pelo menos 50 locais (edifícios e outros) da UNRWA foram afetados, alguns diretamente atingidos. Esses locais usados como como abrigos, incluindo escolas, têm mil pessoas. Citando dados atribuídos ao Ministério da Saúde, o conflito já matou 2.326 mulheres e 3.760 crianças na Faixa de Gaza.

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Em entrevista ao portal UOL News, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou que aparentemente se dá mais valor às vidas de cidadãos de países do Primeiro Mundo no momento de elaborar listas para autorizar estrangeiras a sair de Gaza. “O mundo está tendo um desequilíbrio. Quando se trata da morte de palestinos, parece um ‘efeito colateral’ e que a vida deles não vale tanto quanto a dos outros. Esta é uma realidade que sentimos e o mundo está sentindo”, declarou.

Para ele, os Estados Unidos teriam o poder de pelo menos estabelecer uma pausa humanitária em Gaza. Mas vetaram resolução apresentada pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU, além de garantir “apoio incondicional” a Israel.