Crise

Hollande reúne estado maior do governo para estudar venda de Alstom

Empresa é um dos fabricantes ferroviários privados mais importantes do mundo, mas vive de encomendas públicas. No Brasil, é investigada por prática de cartel e corrupção junto a integrantes do governo de SP

Arquivo RBA

Empresa é investigada desde 2008 por suspeita de fraude em licitações no metrô de SP e pagamentos de propinas

Paris – O presidente da França, François Hollande, reuniu neste domingo (27) o estado maior do governo para analisar a situação do grupo industrial francês Alstom, cuja compra é disputada por seus principais concorrentes, a americana General Electric e a alemã Siemens. A Alstom declarou em comunicado após reunião do conselho de administração que “continua e aprofundará sua reflexão estratégica” e informará o mercado antes de quarta-feira, data em que sua cotação na bolsa de Paris ficará suspensa.

Hollande convocou no Palácio do Eliseu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e as titulares de Economia e Indústria, Arnaud Montebourg, e de Ecologia e Energia, Ségolène Royal. Horas antes, Montebourg tinha suspendido reunião prevista para ontem com o presidente da General Electric (GE), Jeffrey Immelt, para estudar alternativas de incorporação da Alstom por um grupo americano. A alemã Siemens oficializou interesse.

“General Electric e Alstom têm seu calendário, que é o dos acionistas, mas o governo tem o seu, que é o da soberania econômica. Por isso queremos ter o tempo necessário para examinar seriamente outras proposições”, declarou Montebourg em comunicado.

O governo francês não esconde a preferência para que a Alstom se associe a um grupo da União Europeia (UE) e Hollande chegou a defender “um Airbus da energia”, em referência ao gigante da aeronáutica e da defesa, que tem no conjunto de acionistas França, Alemanha e, em menor medida, Espanha e outros parceiros.

A Siemens tem a preferência do governo francês. A Alstom, um dos grupos emblemáticos da indústria francesa, dedicado à energia e a fabricação de infraestruturas ferroviárias, trens de alta velocidade, já precisou ser resgatada pelo Estado em 2004. Tanto Alstom como Siemens são famosas no Brasil por, entre outros negócios, fornecer trens e equipamentos para as companhias de trens e metrô do estado de São Paulo. Ambas são investigadas por participar de formação de cartel na composição de contratos com o governo paulista – foi um dos executivos da empresa alemã que denunciou o esquema, que envolveria ainda valores superfaturados e pagamentos de propinas a integrantes do governo.

Como a Alstom opera em setores estratégicos, como a energia nuclear, a operação precisa da autorização do Estado francês. Montebourg ressaltou que será “particularmente firme em suas exigências de manutenção e criação de empregos, investimento e pesquisa e desenvolvimento na França, assim como na manutenção dos centros de decisão no país”. “É preciso lembrar que a Alstom vive principalmente das encomendas públicas e do apoio do Estado à exportação”, acrescentou.

Na quinta-feira vazou que a General Electric apresentaria uma oferta pela Alstom cifrada em US$ 13 bilhões pelo conjunto do grupo, o que representava 25% a mais que seu preço de mercado antes da notícia. Outras fontes disseram que a proposta afeta só as atividades energéticas da firma francesa e não as de transporte.

A Alstom, fundada em 1928, emprega na França 18 mil pessoas e 93 mil no total no mundo, e tem um faturamento de US$ 20 bilhões. É um dos fabricantes ferroviários mais importantes do mundo e equipou desde o metrô de Nova York, de Santiago do Chile e de Caracas até as redes de bondes de Barcelona ou Dublin.

Mas atravessa dificuldades financeiras e nos últimos três anos perdeu 39% do valor na bolsa. A tentativa de compra do gigante francês por um grupo estrangeiro chega depois de outros grupos industriais do país terem unido forças com empresas de fora da UE nos últimos meses, como a fusão Lafarge com a suíça Holcim (cimento) e a entrada do grupo chinês Dongfeng no capital da PSA Peugeot Citröen (automotivo).

Com informações da EFE