modus operandi

EUA apoiam golpes em outros países, desde que levem vantagem, diz Sergey Lavrov

Washington, seus aliados e toda a mídia do Ocidente – inclusive a brasileira – esperavam que o motim do grupo Wagner de fato derrubasse Putin, o que não tinha base na realidade

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Chanceler russo – que esteve no Brasil há dois meses – diz que EUA estimulam forças ilegais onde lhes convém

São Paulo – Os EUA são defensores entusiastas de golpes de Estado para mudar regimes de países, desde que possam se beneficiar da queda de governos que não lhes interessam. A avaliação é do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em entrevista ao site RT, após a tentativa de insurreição do grupo Wagner, entre a noite de sexta-feira (23) e esta segunda.

“Onde o Ocidente está satisfeito com o governo, nessas situações nenhum protesto pode ser legítimo para eles. Mas (nos países) onde o governo não reflete os interesses da hegemonia (dos EUA) e está perseguindo os interesses nacionais, nesses casos vemos várias forças ilegais sendo estimuladas”, disse Lavrov.

Na opinião do chanceler russo – que esteve no Brasil em abril –, um exemplo dessa política de dois pesos e duas medidas se dá justamente na Ucrânia. Em fevereiro de 2014, o presidente ucraniano, Victor Yanukóvich, que era aliado da Rússia, foi deposto por um golpe de Estado com apoio dos Estados Unidos. O golpe foi semelhante ao processo que no Brasil derrubou Dilma Rousseff.

Mas a revolta na Ucrânia foi violenta e apenas na semana de fevereiro em que o governo caiu morreram dezenas de pessoas. Os manifestantes da chamada revolta de Maidan em Kiev tinham lideranças de extrema direita que incluíam simples admiradores do nazismo até ativistas violentos e armados cuja linhagem remonta a nazistas, afirma artigo no site Jacobin.

Marionete de Washington

O chamado golpe de Maidan em Kiev foi uma “revolta que aconteceu contra o presidente legítimo” e que foi marcada por “sangrentas provocações contra a polícia desarmada”, disse Lavrov. Depois de um governo-tampão, foi “eleito” o atual presidente, Volodymr Zelensky, considerado marionete de Washington.

Durante o último fim de semana, os Estados Unidos, seus aliados e toda a mídia ocidental – inclusive a brasileira – demonstraram expectativas claras de que a tentativa de insurreição dos mercenários do grupo Wagner, liderado por Yevgeny Prigozhin, pudesse enfraquecer e até mesmo derrubar o presidente russo, Vladimir Putin.

Até mesmo sites progressistas reproduziram essas informações, que não tinham qualquer base na realidade. “À medida que as notícias da tentativa de golpe armado da empresa militar privada de Wagner chegavam ao Ocidente, colunistas de jornais e especialistas correram para prever a queda do governo do presidente russo Vladimir Putin, uma vitória militar para a Ucrânia e um fim incerto para o chefe de Wagner”, ironizou o próprio site RT no sábado.

Nos EUA, decepção

Nesta segunda-feira, o jornal The New York Times publicou um artigo em que mal disfarça a decepção da Casa Branca com o andamento da “contra-ofensiva” ucraniana, esperada há semanas.

“Após três semanas em uma contra-ofensiva crítica para as perspectivas da Ucrânia contra a Rússia, seu exército enfrenta uma série de desafios que complicam seus planos, mesmo quando utiliza novas armas sofisticadas fornecidas pelo Ocidente”, diz o periódico americano.

 “No fim de semana, um motim em solo russo por forças mercenárias aumentou as esperanças na Ucrânia de que seu exército pudesse achar o andamento um pouco mais fácil, embora a rebelião tenha morrido rapidamente”, anotou o NYT.

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