Reunião bilateral?

Lula e Putin podem se encontrar em cúpula do Brics na África do Sul em agosto

Para professor da Universidade de Chicago, um acordo que satisfaça objetivos da Rússia “já não é possível”. E o que restar da Ucrânia não poderá travar uma guerra contra a Rússia

Yevgeny Biyatov/Sputnik
Yevgeny Biyatov/Sputnik
Moscou “terminará anexando grande parte da Ucrânia, que será um Estado falido disfuncional”, diz analista

São Paulo – A cúpula dos Brics na África do Sul – no final de agosto – pode ser a oportunidade mais próxima para um encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A informação é do site Sputnik International, que cita o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira.

“A oportunidade mais próxima de um encontro (entre os dois líderes) pode ser na cúpula do Brics na África do Sul. Desde a eleição de Lula, eles já se contataram duas vezes, e o presidente Putin recebeu o enviado especial Celso Amorim para discutir o conflito na Ucrânia e as perspectivas de paz”, disse Vieira, de acordo com o site (veja aqui).

Na última sexta-feira (14), em entrevista ao jornal South China Morning Post, o cientista político norte-americano John Mearsheimer afirmou acreditar que a Rússia vencerá a guerra contra a Ucrânia, que perderá “vastos territórios” e se transformará em um Estado “disfuncional”. “O que restar da Ucrânia não será capaz de travar uma grande guerra contra a Rússia, e não satisfará os critérios para se juntar  à União Europeia ou à Organização do Tratado do Atlântico Norte. Penso que esse será o resultado final”, disse o analista.

Mais dois anos?

Professor titular da Universidade de Chicago, Mearsheimer previu que a “luta ativa” continuaria por mais dois anos. O professor norte-americano sugeriu ao Ocidente que se prepare para a vitória “desagradável” da Rússia.

Em artigo publicado na semana passada no site A Terra é Redonda, intitulado Para onde vai a guerra na Ucrânia”, o cientista político diz acreditar que, embora a Rússia deva acabar vencendo a guerra, “não derrotará a Ucrânia de forma decisiva” (ou seja, não conquistará todo o país). Para ele, Moscou “terminará anexando uma grande parte do território ucraniano, transformando a Ucrânia num Estado falido disfuncional”.

Conquista e anexação

Na opinião de Mearsheimer, os objetivos concretos da Rússia “envolvem a conquista e a anexação de uma grande parte do território ucraniano”, enquanto ao mesmo tempo transforma a Ucrânia no “Estado falido disfuncional” a que se refere. “Como tal, a capacidade da Ucrânia para travar uma guerra contra a Rússia seria muito reduzida e seria improvável que se qualificasse para ser membro da União Europeia ou da Otan”, escreve.

O analista observa ainda que Moscou anexou oficialmente a Crimeia (em 2014) e quatro outros oblasts (divisão administrativa e territorial) da Ucrânia  – Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia – que, em conjunto, representam cerca de 23% do território total (do país) antes do início da crise”. Se há razões para pensar que a Rússia anexará outros territórios ucranianos se tiver capacidade militar para isso, “é difícil dizer” qual o tamanho de território adicional Moscou tentará anexar, opina.

Na opinião de Mearsheimer, um acordo que satisfaça os objetivos da Rússia “já não é possível”. “A Ucrânia e a Otan são inseparáveis num futuro previsível e nenhuma delas está disposta a aceitar a neutralidade ucraniana. Além disso, o regime de Kiev é um anátema para os dirigentes russos, que o querem fora de cena.”

Ocidente é ameaça mortal

Ele lembra que, em “importante discurso” em fevereiro de 2023, o presidente Vladimir Putin destacou que, após a dissolução da União Soviética, “o Ocidente nunca parou de tentar incendiar os Estados pós-soviéticos e, acima de tudo, acabar com a Rússia como a maior porção que restou dos limites históricos de nosso Estado”.

Para o professor da Universidade de Chicago, “há um lado positivo” em um cenário em que se dê a vitória russa: diminuiria “significativamente a ameaça de uma guerra nuclear, uma vez que é mais provável que ocorra uma escalada nuclear se as forças ucranianas obtiverem vitórias no campo de batalha e ameaçarem recuperar todos ou a maioria dos territórios que Kiev perdeu para Moscou”.