meios diplomáticos

Lula conversa com o ucraniano Zelensky por videoconferência

Reunião virtual aconteceu nesta quinta-feira após voto do Brasil na ONU, na semana passada, contra a Rússia e a favor do Ocidente em relação à guerra na Ucrânia

Reprodução/Zelenskiy Official/Telegram
Reprodução/Zelenskiy Official/Telegram
Na semana passada, Zelensky afirmou que quer se encontrar com o chefe de governo brasileiro na Ucrânia

São Paulo – A esperada conversa por videoconferência entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o colega ucraniano Volodymyr Zelensky aconteceu na tarde desta quinta-feira (2). A informação foi tornada pública pelo próprio Lula e pelo Palácio do Planalto, em nota oficial. “Os dois falaram sobre a guerra e a busca da paz”, diz o informe.

Na semana passada, Zelensky afirmou que quer se encontrar com o chefe de governo brasileiro e chegou a acrescentar que quer a ajuda dele para Ucrânia ser “mais bem compreendida na América Latina”. Declarou ainda que convidou Lula para ir ao seu país e lembrou que o petista, inclusive, já esteve em solo ucraniano duas vezes, nos anos de 2004 e 2009.

Só não lembrou de dizer que, à época, não havia guerra com a Rússia. Segundo a nota divulgada pelo Planalto, “Lula manifestou disposição em atender o convite em um momento adequado, e retribuiu o convite, com o desejo que o retorno da paz facilite esses encontros”. O comunicado brasileiro sublinha ainda que o país “defende a integridade territorial da Ucrânia”. Por isso, “votou favoravelmente à recente resolução da ONU” nesse sentido.

O presidente brasileiro citou ainda conversas com os lideres da França, Alemanha e EUA sobre o tema, continua a nota. Diplomaticamente, Lula também manifestou a disposição “de conversar igualmente com a China em sua visita a Pequim e também de conversar com a Rússia”.

Na ONU, Brasil desagrada Moscou

Na semana passada, o Brasil se alinhou aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aos Estados Unidos na ONU, sobre a guerra na Ucrânia. O país votou favoravelmente à resolução que condena a invasão da Ucrânia por Moscou e pede a retirada das tropas russas. A posição foi um abandono da neutralidade pela diplomacia brasileira.

Em entrevista ao Uol publicada nesta quinta, o vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, disse que “lamenta” o voto do Brasil na Assembleia Geral. Como resposta, indicou que “respeita” a intenção brasileira de buscar a paz entre os dois países, manifesta por Lula, mas destacou que não há “necessidade” de mediação.

Na semana passada, o professor Bernardo Wahl, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), disse à RBA considerar remota a chance de a proposta de paz brasileira vingar, porque “nenhuma das partes está disposta a ceder”. “Ao meu ver a guerra vai continuar”, opinou.

Ontem, o Itamaraty afirmou que o chanceler russo Sergey Lavrov deve vir ao Brasil em abril, mas a informação ainda não foi confirmada pelo próprio Lavrov, um dos mais importantes aliados de Vladimir Putin, nem pelo Kremlin.

Incoerência na ONU

Segundo reportagem do Brasil de Fato, o alinhamento do Brasil à Otan e aos EUA na votação da semana passada é classificado como “incoerente” e “preocupante” por especialistas. O posicionamento brasileiro foi o único, entre os membros do Brics, que ficou ao lado do Ocidente.

Obviamente, a Rússia votou contra. Mas Índia, China e África do Sul mantiveram a posição e se abstiveram de votar. O resultado foi 141 países a favor da resolução, sete contrários e 33 abstenções.

A posição brasileira, desalinhada do Brics, “é incoerente, porque o Brasil é parte do bloco dos emergentes, e na minha opinião desqualifica o Brasil como solucionador do processo”, disse Elias Jabbour, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ao BdF