Diplomacia

Na Ucrânia, Celso Amorim trabalha para equilibrar posição brasileira ante conflito com a Rússia

Assessor especial da Presidência da República está na Ucrânia, onde conversa nesta quarta-feira com o presidente do país, Volodymyr Zelensky

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"Feliz em conhecer o assessor-chefe do presidente brasileiro Lula da Silva", diz Andrij Melnyk

São Paulo – O assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, está na Ucrânia, onde conversa nesta quarta-feira (10) com o presidente do país, Volodymyr Zelensky. Amorim esteve em Moscou no final de março, quando se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin. Ao lado do primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, nesta terça-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que Amorim já havia chegado na Ucrânia.

A viagem de Amorim foi anunciada em 21 de abril pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, quando o presidente brasileiro visitou Portugal. Na ocasião, Macêdo explicou que a ida a Kiev seria para discutir “assuntos internacionais”. “Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia”, disse então.

A viagem do ex-chanceler não é fácil, considerando que a região está em guerra desde fevereiro de 2022. Ele percorreu um trajeto de 12 horas de trem desde a Polônia até a Ucrânia, para se reunir com Zelensky nesta quarta-feira.

No Twitter, o diplomata Andrij Melnyk, que se define como “orgulhoso diplomata ucraniano, embaixador, especialista em Direito Internacional”, postou uma foto com Amorim. “Feliz em conhecer o assessor-chefe do presidente brasileiro Lula da Silva @LulaOficial”, disse. “O Brasil pode desempenhar um papel importante para deter a agressão russa e alcançar uma paz duradoura e justa. Também nos esforçamos para revigorar uma parceria estratégica. Obrigado”, acrescentou.

Expectativas

Ontem, durante o encontro com Rutte, Lula falou de suas expectativas sobre a viagem do assessor. “Eu espero que o Celso me traga não a solução, que ele me traga indícios de soluções para que a gente possa começar a conversar sobre paz”, disse Lula ontem. “Ele já sabe o que o Putin quer, ele agora vai saber o que quer o Zelensky. Vamos ter instrumentos para conversar com outros países e construir, quem sabe, a possibilidade de pararmos essa guerra”, acrescentou.

A visita a Kiev tem o objetivo de potencializar uma visão de neutralidade da diplomacia brasileira na Europa, após avaliação ocidental e norte-americana de que Lula teria se aproximado demais da Rússia durante a visita do presidente à China e a do próprio Amorim a Moscou.

Quando Lula esteve na China, há um mês, ele e o líder chinês, Xi Jinping, concordaram ser necessário construir um “plano de paz” para a guerra na Europa. O brasileiro tem afirmado sistematicamente que o Brasil tem a intenção de participar da construção de soluções para o conflito.

“Hora da diplomacia”

No contexto de sua reunião com Mark Rutte, Lula afirmiu que “é hora da diplomacia, não é hora de guerra”. “Todo mundo sabe que o Brasil condenou a invasão territorial da Ucrânia, mas a continuidade só vai levar à morte. Foi essa a razão das conversas com a China, com o primeiro-ministro da Inglaterra, e também vai ser razão da conversa com a Índia e com outros países”, disse ainda. “A Ucrânia tem sua razão, não pode perder sua integridade territorial, tem direito de resistir”, declarou.

O premiê holandês afirmou que sua visita ao Brasil não objetiva apenas “celebrar a amizade entre os países”, como disse, mas também falar de negócios. Desse modo, anunciou a compra de cinco aviões KC-390 da Embraer. Nesta quarta ele viaja ao Ceará para conhecer o porto de Pecém, que tem parceria de 75 milhões de euros com o porto de Roterdã.