Equilíbrio

Brasil ignora pressão de Zelensky e da mídia e mantém coerência sobre guerra Rússia-Ucrânia

“Como dissemos repetidamente, qualquer negociação real deve envolver todas as partes”, diz o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Como Lula, Amorim mantém a avaliação de que as condições para a paz precisam levar em conta os interesses de Moscou

São Paulo – A posição do Palácio do Planalto permanece inalterada em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. E ignora a mídia ocidental, que reverbera a fala do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que critica a postura do Brasil e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Neste fim de semana, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, participou por videoconferência de uma reunião com cerca de 40 países para discutir possibilidades de uma saída política para a crise entre Moscou e Kiev. O encontro foi patrocinado pela Arábia Saudita e não apresentou resultados concretos.

Mas a China participou da cúpula, o que foi considerado significativo. Porém, os russos ficaram fora. “Como dissemos repetidamente, qualquer negociação real deve envolver todas as partes”, disse Amorim. “Embora a Ucrânia seja a maior vítima, se realmente quisermos a paz, temos que envolver Moscou neste processo de alguma forma”, continuou o assessor de Lula.

Pela posição brasileira, não haverá paz se não forem considerados os interesses russos em cúpulas pela paz. Celso Amorim disse ao jornalista Jamil Chade, do UOL, que prefere “um acordo imperfeito a uma escalada ilimitada”. “Onde pode acabar essa escalada? Talvez em nós mesmos”, adverte o então chanceler nos dois primeiros governos do petista.

“Este não é apenas um conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Este também é um capítulo na secular rivalidade entre a Rússia e o Ocidente”, afirmou ainda. Para ele, “as negociações deveriam incluir o questão do equilíbrio mais amplo de segurança na Europa”.

Zelensky: de comediante a presidente

Antes da guerra, o presidente ucraniano era mais conhecido como um ex-comediante que virou presidente com apoio dos Estados Unidos, que o colocaram no lugar do ex-presidente Viktor Yanukovych, aliado do russo Vladimir Putin, derrubado por um golpe apoiado pelo Ocidente em 2014.

Agora, com apoio militar e econômico expresso e maciço da Otan e dos Estados Unidos, Zelensky assumiu a autoria de discursos arrogantes e irrealistas. Disse em entrevista coletiva neste domingo (6) que achava que Lula “tinha uma compreensão mais ampla do mundo”. Para o ex-comediante, “é muito importante ver o mundo no seu conjunto”.

Só que isso, na opinião de Zelensky, significa apoiar a Ucrânia contra e Rússia. “Acho que o presidente Lula é uma pessoa experiente, mas não entendo muito bem uma coisa: será que ele acredita que sua sociedade não entende completamente o que está acontecendo e ele conta com isso?”, questionou. “As declarações de Lula não trazem paz de forma alguma. É estranho falar sobre a segurança da Rússia”, reclamou ainda o ucraniano.

Brasil é coerente

Mas a posição brasileira tem sido coerente. Embora, em âmbito diplomático, o Itamaraty tenha condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia, Amorim mantém a avaliação de que as condições para a paz precisam levar em conta os interesses de Moscou, que são antigos.

Na semana passada, o ex-chanceler defendeu, em encontro com jornalistas, que as negociações de paz não podem “deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia”, que, segundo Amorim, são reais e legítimas.

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