Futebol e política

Boca Juniors: Riquelme vence Macri ‘privatista’ apoiado por Milei, em eleição histórica

Com recorde de participação, o ídolo do Boca Junior será o novo presidente do clube mais popular da Argentina, impondo derrota à Milei, vaiado em La Bombonera

Divulgaçação/Boca Juniors
Divulgaçação/Boca Juniors
Vitória de Riquelme contra Macri demonstra que "classes dominantes" não entendem de futebol

São Paulo – O ex-jogador Juan Roman Riquelme será o novo presidente do Boca Juniors. Ele vai comandar o clube pelos próximos quatro anos. Ao lado de Jorge Amor Ameal, atual mandatário do clube, o ídolo xeneize derrotou a chapa adversária, formada pelos políticos Andrés Ibarra e Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina (2015-2019). De quebra, Riquelme ainda impôs uma derrota ao atual presidente, Javier Milei, que apoiou Macri na disputa.

A chapa encabeçada por Riquelme, atual vice-presidente do Boca, obteve 65,3% dos votos, em uma eleição que contou com a participação de 46.402 sócios, um recorde histórico para o futebol argentino. Também foi a eleição mais polarizada da história do clube, o mais popular do país.

A principal bandeira de Riquelme era evitar a privatização do Boca. A chapa Ibarra-Macri defendia transformar o clube numa SAF (Sociedade Anônima de Futebol). O ultradireitista Milei também é defensor da “privatização” dos clubes argentinos.

“O torcedor precisa saber que estamos diante das eleições mais fáceis da história. Esses senhores, quando voltarem, vão privatizar o clube, vão dá-lo aos três amigos que têm por aqui, e não se vota nunca mais. Isso não pode acontecer”, alertou Riquelme, no final do mês passado.

Ao mesmo tempo, Riquelme também declarou apoio ao amigo Sergio Massa, candidato peronista que perdeu o segundo turno das eleições presidenciais argentinas em novembro passado.

Milei ‘vira-casaca”

Recém-empossado, Milei compareceu ontem (17) ao estádio La Bombonera para votar e foi alvo de vaias e protestos dos torcedores. Assim, ele ouviu gritos como “ajustador”, “o clube é do sócio”, “quer roubar os aposentados”. Trata-se de uma reação às primeiras medidas econômicas do governo Milei, que cortou subsídios à energia e ao transporte, por exemplo, acelerando ainda mais a inflação no país. Além disso, Milei foi chamado de “galinha”, apelido que os boquenses dão aos hinchas do River Plate, seu maior rival.

Em 2013, o agora presidente criticou a recontratação de Riquelme como um ato de “populismo” da direção do clube à época. Além disso, em entrevista ao jornal espanhol El País, disse que acabou torcendo para o rival River, durante a final da Libertadores de 2018. Novamente usou o populismo para justificar ter virado a casaca. “Estava torcendo pelo Boca. Na verdade, assistindo ao jogo. Mas quando entrou o Gago, que foi mais um ato de populismo, passei a torcer pelo River”.

Roman contra a “casta macrista”

Para Ariel Greco, Riquelme “esmagou” a “casta macrista“. Isso porque o ex-presidente argentino comandou o Boca por 12 anos seguidos, entre 1995-2007. “La casta” é como Milei se refere às supostas “elites” política e econômica que seriam responsáveis pelas seguidas crises no país.

Nesse sentido, a aproximação com Macri, que em 2018 fechou um empréstimo de US$ 57 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), vem causando fissuras no discurso “antissistema” de Milei. Luis Caputo, que foi ministro das Finanças de Macri, é o escolhido de Milei para comandar a economia argentina. Do mesmo modo, a candidata derrotada Patricia Bullrich foi escolhida como ministra da Segurança Nacional, pasta que também ocupou durante a gestão macrista.

A deputada Myriam Bregman, que se candidatou à Casa Rosada pela Frente de Esquerda, publicou uma breve análise atribuída ao ex-treinador e ex-diretor técnico argentino Ángel Cappa. Ele afirmou que a derrota da chapa de Macri demonstra que “as classes dominantes seguem sem entender o futebol”. “Subestimaram um ídolo, que com picardia de bairro – espécie de “malandragem”, em tradução livre – soube propor: é futebol ou negócio”.


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