Pioneira

Míriam Miràh, uma voz latina na canção brasileira

Cantora que esteve na formação do Tarancón e integrou o Raíces de América morreu aos 68 anos

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Com várias influências musicais, Míriam Miràh pesquisou e ajudou a divulgar sonoridades do continente, com o Tarancón e o Raíces

São Paulo – Ainda criança, Miriam Pedroso ouvia discos de salsa comprados pelo pai, escutava viola caipira tocada por um tio e curtia a irmã (Cida Olivetti), cantora de Bossa Nova. Influenciada por MPB, por Mercedes Sosa e chamada Nueva Canción, ela começou cantando em um festival do tradicional colégio Equipe, em São Paulo, e aos 19 anos, em 1972, ajudou a criar o grupo Tarancón, pioneiro na pesquisa e divulgação de ritmos latinos. Já era Míriam Miràh, que morreu na madrugada desta quarta-feira (23), aos 68 anos – completaria 69 no próximo dia 2.

O anúncio foi feito pela família em redes sociais. Ela sofreu um infarto. O velório será realizado a partir das 13h no Cemitério da Vila Mariana, com o sepultamento marcado para as 16h.

Sucesso em festival

Jica Thomé, Emilio Nieto e Míriam foram os precursores do Tarancón, nome tirado de uma mina de carvão nas Astúrias (Espanha), onde um desabamento causou a morte de 11 trabalhadores. A cantora conheceu Emílio no Equipe, e foi apresentada a Jica. Por sua vez, apresentou a eles a compositora e pianista Alice Lumi. Precursor, o Tarancón formou um público fiel, mas ganhou mais projeção ao participar de um festival da TV Globo em 1985 com Mira Ira (Lula Barbosa e Vanderlei de Castro), classificada em segundo lugar. O primeiro disco (Gracias a la Vida) é de 1976.

Ainda como intérprete do Tarancón, Míriam lançou cinco LPs, de 1976 a 1981, além do single Mira Ira, em 1986. A artista fez uma pausa na carreira para cuidar dos quatro filhos e voltou com um trabalho voltado à música caribenha. A partir de 2002, integrou outro grupo pioneiro, o Raíces de América. Fez várias apresentações em tributo a artistas como Mercedes Sosa, Violeta Parra, Geraldo Vandré e Taiguara. Assim, em 2008, por exemplo, dividiu o palco com Isabel Parra, filha de Violeta. Marcada pela latinidade, em entrevista de 2020 ao site Ritmo Melodia ela disse não ter rótulos em seu estilo: “Há muita música latino-americana, com brasilidade, e alguma costura do pop dos anos 60. Há em algum grau influências mais contemporâneas, que se incorporam à minha maneira de cantar”.