Príncipe da caatinga

Malungo Elomar, o ‘violêro’, continua internado com covid

Compositor e cantor baiano, de 84 anos, está hospitalizado desde o último dia 21. Apesar do quadro clínico estável, voltou a ser intubado neste sábado

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Com obra rica e diversificada, Elomar tem no sertão a sua 'pátria'

São Paulo – Elomar Figueira Mello tem quadro clínico estável, sem febre, sem complicações cardíacas ou renais. No entanto, apresentou necessidade de retornar à ventilação mecânica, sendo necessária intubação. O procedimento foi feito hoje pela manhã, sem intercorrências, segundo boletim médico divulgado neste sábado (5) pelo Hospital Samur, em Vitória da Conquista (BA).

O cantor e compositor baiano, de 84 anos, está internado desde a noite de 21 de fevereiro, com diagnóstico de covid-19. Os médicos haviam retirado Elomar da ventilação mecânica na manhã desta quinta (3).

A pátria é o sertão

A família de Elomar foi para o campo quando ele tinha 7 anos. O pai (Ernesto) era boiadeiro e a mãe (Eurides) costurava. Depois, foi cursar o antigo científico em Salvador e voltou para servir o Exército. Perdeu o vestibular para Geologia em 1957, mas dois anos depois passou em Arquitetura, curso que conclui em 1964. E vai morar de vez no sertão, sua “pátria”, onde faria fama com a obra musical. Seu cancioneiro inclui autos, óperas e concertos.

Encontro de estilos: Heraldo do Monte, Elomar, Paulo Moura e Arthur Moreira Lima, que 40 anos atrás gravaram o álbum ConSertão (Reproduçao)

Seu primeiro LP, …Das Barrancas do Rio Gavião, está completando 50 anos. Na contracapa, um texto de Vinícius de Moraes. O poeta define o artista como “um príncipe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes (…)”.

Segundo o site oficial de Elomar, o álbum não pertence ao compositor. “Este disco há vinte e oito anos é propriedade eterna da Rainha da Holanda, a qual – graças às benevolências das leis brasileiras sobre direitos autorais – nunca pagou um real sequer de direitos do autor.”

ConSertão e Cantoria

A primeira faixa tem uma das canções mais conhecidas de Elomar, O Violeiro, que alguns também chamam de “violêro”. Traz ainda criações como Cantiga de Amigo, Incelença do Amor Retirante e Canção da Catingueira. Outro álbum sempre lembrado é o ConSertão, de 1982, com Arthur Moreira Lima, Heraldo do Monte e Paulo Moura. “Fruto de uma grande malungagem”, referência a malungo, no sentido de companheiro. Além desse, o Cantoria, gravado ao vivo em 1984 em Salvador, ao lado de Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai.

Também nascido em Vitória da Conquista, João Omar, seu filho, é compositor, arranjador e instrumentista. Nos últimos anos, têm se apresentado juntos.

Elomar sempre foi recluso e avesso a fotografias, como várias vezes se advertiu antes de suas apresentações. Nos últimos anos veio com um pouco mais de frequência a São Paulo. E até fez lives durante a pandemia. Em uma delas, causou alvoroço nas redes sociais depois que chamou o vírus de “comunista”.

“Quero, em agradecimento a Deus, porque ele me deu condições que mesmo dentro de uma crise de um vírus comunista desgraçado como esse, que tá aí, perturbando a nós todos e ao mundo, mudou o mundo que coisa terrível… Daqui pra frente não é o mesmo mundo, é outro mundo”, disse durante a Virada Online de São Paulo, em 2020.


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