Compositor, escritor e pesquisador Nei Lopes recebe título na Federal do Rio
Sambista com vários discos e livros lançados, ele sempre se preocupou com a questão do negro no país
Publicado 26/02/2022 - 11h32
São Paulo – Próximos dos 80 anos, que serão completados em maio, Nei Lopes acaba de receber título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Compositor, sambista, escritor, pesquisador, ex-advogado, nascido no subúrbio carioca de Irajá, na zona norte, Nei Braz Lopes é também um estudioso da questão do negro e da cultura no Brasil. Um trabalho bastante lembrado é o livro Dicionário da História Social do Samba (Civilização Brasileira, 2015), publicado em parceria com o professor Luiz Antonio Simas. Mas a lista é extensa e inclui, por exemplo, o Dicionário Banto do Brasil, lançado original em 1996.
“Possuidor de uma discografia ampla, Nei Lopes teve a oportunidade de fazer um dueto com Chico Buarque com a música Samba de Irajá. São várias as suas parcerias com músicos como Ivan Lins, Zé Renato, Ed Motta, entre outros. Destaca-se também o seu envolvimento com as escolas de samba cariocas. Na Acadêmicos do Salgueiro como compositor e membro da Velha-Guarda e, na Vila Isabel, como dirigente. Atualmente, mantém com essas agremiações relações afetivas”, afirmou o professor Fabio Lessa, relator do processo no Conselho Universitário (Consuni) da UFRJ. A decisão, unânime, ocorreu na sessão da última quinta-feira (24).
Entre seus vários discos, um álbum marcante é A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes, de 1980. Ali estão músicas que se tornariam sucessos também com outros intérpretes, como Gotas de Veneno, Senhora Liberdade, Gostoso Veneno e Ao Povo em Forma de Arte. Outra composição de seu repertório é A Epopeia de Zumbi.
Racismo estrutural
Nei Lopes ganhou o Prêmio Jabuti com História e cultura africana e afro-brasileira, de 2008. Também recebeu títulos honoris causa das federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), além da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “O racismo estrutural é, indubitavelmente, objeto dos estudos de Nei Lopes – que aborda e cataloga com maestria a cultura afro-brasileira ao mesmo tempo que analisa o resultado de sua opressão nas relações sociais”, comentou a professora Elaine Rodrigues, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFRJ, que também participou do processo.
Em depoimento, Nei Lopes já disse que todos os seus estudos se originam da busca por explicações sobre a questão do negro no Brasil e no mundo. Um busca “meramente existencial e política, sem nenhum objetivo acadêmico”, lembrou.